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Brasileira radicada em Nova Iorque, Ana Khouri apresentou sua nova coleção na semana de alta-joalheria, em Paris

Brasileira radicada em Nova Iorque, Ana Khouri apresentou sua nova coleção na semana de alta-joalheria, em Paris

Brasileira radicada em Nova Iorque, Ana Khouri apresentou sua nova coleção na semana de alta-joalheria, em Paris

A nova coleção de alta-joalheria de Ana Khouri reflete seu elo com a natureza e os olhares sobre suas obras esculturais

Colar com diamantes branco e rosa — Foto: Divulgação

A recente semana de alta-joalheria em Paris teve algo de diferente. Em meio a coleções inacreditáveis, salpicadas de tramas de gemas preciosas, imensos babadores de diamantes e temas mirabolantes, aquela que deixou meio mundo boquiaberto foi assinada por uma brasileira. Não lhe faltaram quilates (eram muitos), mas lhe sobraram elegância, rigor e uma simplicidade sofisticada.

Colar com cristal de rocha e turmalina — Foto: Divulgação

Habituée da capital francesa – onde já expôs suas criações no Museu de Artes Decorativas e onde ganhou o prêmio ANDAM de design de joias em 2017 -, Ana Khouri fez seu retorno à cidadedepois de três anos. Houve a pandemia, claro, mas sua natureza é habitualmente imune ao vírus da prolixidade e das obrigações comerciais de calendários. Ela só apresenta o que quer, quando quer e se o achar relevante. “Precisa fazer sentido para mim e para as pessoas”, explicava ela, no elegante salão que lhe foi dedicado na prestigiosa sede parisiense da casa de leilões Christie’s. O local da exposição fazia também sentido para as peças com vocação escultural e jeito de obras de arte. “É uma honra, evidentemente, ser escolhida pela Christie’s para mostrar minhas criações, mas eu não vejo minhas joias como arte no sentido da contemplação. Elas são extensões dos corpos de mulheres em movimento”. Então vou colocar assim: as joias de Ana têm um jeito toy art. Descolam-se, remontam-se, a pedra do colar vira brinco, o brinco se transforma em broche. Notei um certo espanto nos visitantes, quando a anfitriã tirava, sem cerimônia, as peças do totem e os convidava a experimentá-las – caso raro nas apresentações da semana de alta-joalheria, que às vezes lembram missas pomposas e protocolares. “Olha como ele se encaixa no colo”, chamava a atenção para um colar chandelier repleto de diamantes, enquanto o vestia numa jornalista. Tudo parece tão fácil. Mas não é.

Minaudière de ametista com diamante, ear piece com diamante — Foto: Divulgação

Radicada em Nova York desde que abriu seu ateliê, há dez anos, a joalheira tem feito, cada vez mais, a triangulação com a França, onde mergulhou no universo dos pequenos ateliês artesanais, e seu Brasil natal, onde vem incrementando seu compromisso com a sustentabilidade. “A rastreabilidade dos materiais é tão fundamental hoje na joalheria quanto o design ou os quilates”, avisa a designer, embaixadora mundial da ONG Fairmined, que se dedica a certificar o ouro proveniente de minas artesanais e de pequena escala que atendem aos padrões de práticas responsáveis.

Bracelete com cristal de rocha e rubelita, anel com diamante e rubelita — Foto: Divulgação

Adepta das formas minimalistas, Ana se concentrou nas silhuetas ovaladas, símbolo do feminino. Daí a profusão de grandes correntes de ouro ou pavimentadas de diamantes, que, longe de aprisionar o design, evocam o elo criado com sua fiel clientela. De uma delas pende um hipnotizante diamante rosa de 5,32 quilates, incrustado numa espécie de cadeado. De outra se pendura uma poderosa turmalina em baguete, sem salamaleques ou enfeites, como uma imperatriz solitária, mas não aristocrática. Ela gosta é de rock’n’roll.

Entre os 45 itens únicos, destaca-se um colar rígido de ouro – metade dele salpicado de diamantes – sobre o qual pairava, flutuante, uma magnífica rubelita de 42,18 quilates. Um poderoso diamante cai como uma lágrima de uma gargantilha de ouro bicolor, que se contorce como uma onda fluida. Há uma clutch de madeira certificada e outra, uau, inteira de ametista. Eis a grande sacada: como Ana vem abordando recentemente as gemas coloridas em seu trabalho, que, no início, passava longe delas. Para realçar seu brilho e tonalidade, a designer recorreu ao cristal de rocha transparente, que, combinado ao ouro, acabou criando um efeito de espelho, presente também nos maxibraceletes “amassados” e nos brincos com pérolas que parecem faróis. Cada material, dos anéis aos brincos, foi esculpido de forma a refletir não somente a irradiância das pedras, mas também quem se deslumbra com elas.

A designer Ana Khouri — Foto: Divulgação

“Na cultura chinesa ancestral, o cristal era considerado o sopro do dragão, algo que não se pode ver, mas do qual não se pode escapar de sentir”, explicava a artista. “Eu quis mostrar nesta coleção a minha vulnerabilidade, a maneira como me toca e me afeta a reação das pessoas diante daquilo que eu crio. Só assim, pela conexão com o outro, que consigo entender o que significa realmente o meu trabalho, o que ele pode realmente me ensinar”. Foi uma aula magna, direta e contundente.

*Bruno Astuto para Vogue

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