Na era da experiência, os lojistas precisam se adequar para atender às novas demandas dos consumidores
Jean Christian Mies
Nos últimos 50 anos, o consumidor brasileiro viu o dinheiro físico ser pouco a pouco substituído pelo cartão de crédito; as compras online antes feitas no desktop migrarem para os aplicativos e até carteiras digitais. A evolução tecnológica foi sem dúvida o principal fator na transformação do comportamento de consumo. Mas e agora, qual será o próximo passo? Imagine fazer pedidos de supermercado e pagar por um sistema integrado à própria geladeira. Ou acertar a conta do restaurante pelo smartwatch. Pode parecer futurologia, mas essa tendência já faz parte de nossa realidade.
“Internet das coisas” (IoT, na sigla em inglês) é a expressão do momento no mercado de tecnologia. E não é por acaso: o BNDS estima que até 2025 aplicativos e soluções de IoT irão movimentar US$ 132 bilhões na economia brasileira. O conceito, que surgiu em 1999, serve para designar objetos inteligentes que se comunicam, entre si e com o usuário, por meio de sensores e softwares que transmitem dados para uma rede na nuvem. O resultado é muito mais eficiência, autonomia e praticidade.
Entre as aplicações da tecnologia que mais ganham espaço estão os wearables, ou tecnologias vestíveis. São dispositivos móveis como relógios, pulseiras e óculos que, entre outras funcionalidades, podem monitorar dados de saúde, replicar notificações do smartphone e até mesmo realizar pagamentos. Outra novidade, as smart houses, ou casas inteligentes, contam com sistemas que identificam a rotina do morador para configurar automaticamente climatização, iluminação e segurança.
Mas o potencial da IoT não para por aí. Já populares pelos usos tradicionais, os dispositivos conectados devem passar também a habilitar vendas e prometem revolucionar o varejo. Um smart shoe da Under Armour, por exemplo, já monitora passos, velocidade e trajeto com um discreto chip instalado no tecido do tênis. Mas e se ele também pudesse identificar o desgaste do sapato e solicitar ao smartphone modelos similares na plataforma de ecommerce, que poderiam ser comprados com um único clique ou por comando de voz?
Na era da experiência, lojistas precisam se adequar para atender à demanda dos consumidores por jornadas de compra que se encaixem melhor em suas rotinas. Dados recentes da Adyen indicam que 75% das pessoas comprariam com maior frequência se pudessem evitar filas, e 60% de todas as transações processadas pela empresa já são feitas por dispositivos móveis.
Mas as possibilidades da IoT para o varejo não são restritas ao e-commerce. Pelo novo conceito de Unified Commerce, entende-se que as jornadas de compra online e offline devem ser totalmente integradas. Como acontece no sistema da empresa de tecnologia Atos, em que um motorista pode abastecer o seu smart car em um posto de gasolina sem precisar passar pela experiência de pagamento. Um sensor na bomba já reconhece a placa do carro e identifica o condutor por seus dados de pagamento cadastrados e o cobra automaticamente.
As tecnologias de IoT representam mais chances de conquistar o consumidor. Se antes ele estava disponível apenas ao vir à loja e ao navegar na internet pelo smartphone ou computador, agora o cliente pode ter acesso a lojista ao ligar o carro, abrir a porta da geladeira e ao checar as horas no relógio. Essas tecnologias já existem e em breve contarão com opções de pagamento integradas. Para o varejo, é o momento de integrar os canais de venda e se preparar para abraçar as novidades tecnológicas e todas as possibilidades que vêm com elas.
Jean Christian Mies é presidente da Adyen para a América Latina