Evgeniya era uma empresária de sucesso da alta joalheria, mas largou tudo para lutar na guerra da Ucrânia
Por Maurício Businari*
Com mais de cinco anos no mercado, a grife de joias, que leva o seu nome, já teve peças premiadas em uma das exposições mais importantes do leste europeu, a Jeweller Expo Ukraine. Porém, desde que a Rússia invadiu o país, ela se viu obrigada a trocar as ferramentas de lapidação de pedras pelas armas.
Em entrevista exclusiva ao UOL, Evgeniya conta que tinha uma vida confortável antes dos conflitos terem início. Por causa do sucesso do seu trabalho, conseguiu reunir recursos suficientes para comprar e manter duas casas, um apartamento e dois carros de luxo. Um patrimônio que conquistou para garantir o futuro da filha, de 10 anos, que morava com ela em Kiev, capital da Ucrânia, até escapar para a Polônia.
O interesse pelo setor joalheiro teve raízes familiares. Ela conta que, em casa, a joalheria sempre teve uma energia especial, mas ela nunca poderia imaginar que essa arte entraria na sua vida tão rapidamente e se tornaria um dos seus principais componentes.
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“Minha história com a joalheria começa com um dia trágico que mudou a vida da minha família para sempre. A morte do meu pai. Papai era um admirador e colecionador de joias. Ele acreditava que o dinheiro é transitório, mas que o ouro e os diamantes são eternos”, disse.
“Sua teoria foi reforçada pela história de como, durante o Holodomor, minha avó salvou a vida de seus filhos trocando moedas de prata por comida”, lembrou, referindo-se ao período chamado de “A Grande Fome”, uma crise generalizada de escassez que atingiu a Ucrânia durante o regime comunista soviético, liderado desde 1922 por Joseph Stalin (1878-1953).
“A morte do meu pai foi capaz de dar origem a essa ideia de criar uma joalheria. Porque decidi firmemente honrar e perpetuar a memória dele a todo custo”, afirmou. “Eu criei a minha grife de joias há anos. Ela fez muito sucesso na Ucrânia. Trabalhei com gente rica. Em 2020, fui aclamada como a melhor joalheira do meu país”, contou a empresária.
Através das postagens feitas em seus perfis nas redes sociais, é possível acompanhar sua transformação de “dama dos negócios”, como ela mesma diz, a “dama militar”. Suas fotos e vídeos, antes permeados por roupas caras, encontros com figuras importantes do país e cenários luxuosos, passaram a exibi-la em uniformes do exército e carregando armamento pesado.
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“Me chamam de Joana D’arc da Ucrânia”
Evgeniya se considera uma mulher de fibra. Ela é chamada por seus amigos e colegas como “Joana D’arc da Ucrânia”, por causa de seu temperamento incisivo e seus ideais. Antes de se dedicar à joalheria, foi oficial do exército ucraniano, chegando à patente de segundo tenente.
“Sempre gostei de armas. Antes da guerra, eu tinha 10 armas. Eu doei quase tudo para o exército e fiquei apenas com um rifle sniper. As pessoas já me comparavam à santa Joana D’arc muito antes da guerra. Sou uma pessoa de caráter forte. Eu até gosto que me chamem assim”.
A joalheira é a única mulher em um pelotão de 100 homens. Ela é sniper, uma atiradora de elite. Ou seja, ela é treinada e capacitada para dar tiros de grande precisão a longas distâncias.
Um sniper geralmente fica escondido, procurando manter a mira o mais precisamente possível em seu alvo, e aguardando o momento certo ou uma ordem superior para efetuar o disparo.
Em geral, as armas utilizadas pelos snipers incluem espingardas, fuzis e carabinas, com miras de alto alcance. Apesar dos perigos que a guerra trouxe para a sua vida, Evgeniya afirma sentir-se orgulhosa por estar cumprindo o seu dever cívico. Seu maior desejo é que o fim dos conflitos chegue logo e que sua filha possa voltar para um país livre.
“Eu acredito no nosso país e ele tem um grande futuro. Sinto que tenho me preparado para isso toda a minha vida. Meu pelotão não sairá do meu país natal até vencermos esta guerra com os fascistas russos. Quero paz e liberdade para minha família, para meus amigos e para todos os ucranianos. A Ucrânia vai vencer.”
*Maurício Businari em colaboração para o UOL