Estratégias digitais para aumento das vendas e crescimento de negócios B2B, através ações de vendas e marketing, com foco na experiência do cliente.
Por Fernanda Nascimento
Nossos tempos de home office seguramente vão ficar na memória. Não apenas porque redescobrimos cada vão das nossas casas e da personalidade e temperamento das pessoas que vivem com a gente, como exercitamos uma vida longe dos confortos básicos que uma grande cidade oferece, como os restaurantes, parques, academias, museus, shoppings.
Pois eu estava num desses dias de muito trabalho, criando uma estratégia cheia de nuances para um agente do mercado financeiro, e tentando apaziguar a briga entre os filhos de sete e nove anos, quando o interfone tocou: era o almoço que chegava pelo iFood. Pedi comida num restaurante simpático aqui do bairro. Fomos lá algumas vezes nos tempos pré-pandemia e o custo/ benefício é ótimo. Depois de borrifar litros de álcool na sacola, tirei de dentro um saco de papel pardo, ainda quentinho, que exalava um cheiro bom.
A primeira surpresa vinha já na embalagem: uma bela caligrafia registrou ali o poema Reinvenção, de Cecília Meireles. Li devagar, em pé na cozinha e veio até um aperto na garganta. Dizia a poetisa que a vida só era possível reinventada. E eu estava nesse momento tentando justamente ressignificar tudo ao mesmo tempo. Ela fala de encontros, ausências, grandezas e sonhos, como se lesse os meus pensamentos.
Gastei uns bons minutos tentando entender a mensagem que vinha com o almoço, enquanto tirava as embalagens com a saladinha, a comida quente e, outra surpresa, uma sobremesa que eu não pedi, mas era um carinho pelos dias difíceis que estávamos atravessando. Colado no bolo de coco molhadinho, uma folha de papel pardo, dobrada com muita bossa, trazia mais algumas opções do cardápio, datilografadas. Sim usaram máquinas de datilografar! E então um outro texto explicava a importância de se prestigiar o comércio do bairro, explicava que o restaurante só trabalhava com orgânicos e que tinha a missão de fazer uma comida parecida com a casa da mãe, terceirizando minimamente a produção.
O bolo, os pães, a manteiguinha temperada, tudo, enfim era feito ali e embalado com afeto. Pode soar piegas, banal até, mas o fato é que esse conteúdo tão genuíno e expressivo, me capturou completamente. Entramos em perfeita sintonia: eu, apreensiva, com a vida de pernas para o ar, e aquele restaurantezinho tentando sobreviver e me entregando uma porção generosa de sabor, paz e poesia. Isso me fez pensar em conexão. Em como o conteúdo que produzimos pode funcionar para os clientes mesmo nas situações mais adversas.
Desde o início da pandemia, seguimos focados na vida diferente que teremos adiante e que ainda não é clara para nós. Mas entre muitas dúvidas, uma certeza para mim é tão clara quanto uma vacina testada e aprovada: o conteúdo se tornou ainda mais essencial. Penso em como ativar novos pontos de conexão a partir de uma história bem articulada, que faça total sentido para o cliente. Por que o conteúdo é também o que nos dá a sensação de pertencimento, quando tudo o mais parece tão incerto.
Quando trabalhado de forma estratégica, ele encanta, ensina, diverte, ajuda, acalma, traz insights, respostas. Conforme vamos aprendendo a conviver com os efeitos da pandemia e da crise que ela precipitou, vamos redefinindo nossas personas dentro do novo contexto. Sabemos hoje que narrativas humanizadas fazem muito mais sentido, mesmo para os negócios mais racionais, como os investimentos financeiros e a contratação de uma demanda energética. Um conteúdo útil, autêntico e apresentado na hora certa, pode fazer mais pela sua marca do que as complexas reengenharias da comunicação tradicional. Afinal, isso sempre será a sua verdade, a sua essência, a serviço do coração e da mente do seu cliente.
Quer saber como continuou a história com o tal restaurante? Nos tornamos parceiros assíduos há uns bons meses. Ele se tornou um aliado afetuoso da nossa interminável quarentena, que vai ser difícil atravessar esses tempos estranhos sem a sua presença. Sim, os poemas continuam dando o ar da graça e as sobremesas-surpresa, de vez em quando. É o conteúdo adoçando a vida real.