Até o momento, mais de 20 marcas estão usando o software da Aura, uma plataforma sem fins lucrativos que cria um ‘gênero digital’ para produtos de designers
Por Rebecca Cairns
As falsificações são um grande problema para designers sofisticados em todo o mundo: as marcas de luxo perderam US$ 98 bilhões em vendas para falsificações somente em 2017.
Essas perdas podem prejudicar o lucro e a reputação – e é por isso que algumas marcas estão recorrendo à tecnologia para proteger seus produtos, valor da marca e consumidores.
Apesar de serem concorrentes, o conglomerado de marcas de luxo LVMH uniu forças com Prada e Cartier em abril de 2021 para estabelecer o Aura Blockchain Consortium, uma plataforma sem fins lucrativos que cria um ‘gêmeo digital’ para produtos de designers.
Blockchain é um livro digital que não pode ser editado, alterado ou adulterado. É a mesma tecnologia que sustenta as criptomoedas, que viram seus preços caírem ultimamente. Mas tem muitas outras aplicações – e a Aura está usando para dar aos produtos de luxo um identificador digital exclusivo que ajudará os clientes a garantir que sua compra seja o negócio real. “Blockchain é uma tecnologia tão rápida e realmente complexa”, diz Daniela Ott, secretária geral do Aura Blockchain Consortium. “O objetivo da Aura é facilitar o blockchain para marcas de luxo”.
Até o momento, mais de 20 marcas estão usando o software da Aura, com mais de 17 milhões de produtos registrados na plataforma, diz Ott.
“Essas marcas são concorrentes em todos os outros aspectos, mas estão colaborando com essa tecnologia para avançar mais rápido, da maneira mais segura”, diz ela.
Rastreabilidade e confiança
Criando um ‘gêmeo digita’ para produtos físicos como sapatos ou bolsas, o software da Aura compila um registro de informações como o tipo e a fonte do material, onde e quando foi feito e quantos foram produzidos.
Ott diz que isso dará aos consumidores um maior nível de prova e proteção, agindo como um certificado digital de autenticação que usa “criptografia em nível de banco” e é “impossível de falsificar” – frustrando os falsificadores.
Os gêmeos digitais, que podem ser acessados por meio de uma página da Web ou aplicativo móvel, fornecerão mais informações sobre a origem do produto, aumentando a “rastreabilidade e a confiança” em torno da sustentabilidade e questões éticas para consumidores conscientes, diz ela.
O Blockchain tem suas limitações, no entanto – as informações são tão confiáveis quanto a pessoa que as insere, diz Ott, e alerta que “se uma marca não tiver um bom relacionamento com o fornecedor, o blockchain não ajudará”.
A sustentabilidade é uma preocupação fundamental para o consórcio. Como um blockchain privad construído do zero, a Aura diz que sua plataforma usa menos energia do que os blockchains públicos.
A plataforma também dá às marcas controle sobre quais informações elas compartilham e mantém os dados da marca e do consumidor seguros, diz Ott.
A Aura lançou seu software baseado em nuvem no início de 2022. Ott diz que sua tecnologia de plug-in permitirá que as marcas integrem o produto em suas operações existentes com “conhecimento zero de blockchain”.
E mais marcas estão embarcando. O grupo de streetwear de designers OTB tornou-se membro fundador em outubro de 2021 e, no mês passado, a especialista em diamantes e pedras preciosas Sarine Technologies também se juntou ao consórcio.
“Os membros fundadores contribuem para os custos de desenvolvimento e têm mais voz na governança”, diz Ott, enquanto todos os membros pagam uma taxa de licenciamento pelos serviços de software e por cada gêmeo digital produzido.
Tendência de tecnologia
Outras marcas de joalheria e de moda também estão usando ferramentas blockchain. Audemars Piguet e Vacheron Constantin se juntaram à plataforma blockchain de código aberto Arianee, com sede em Paris, enquanto o arquivo fotográfico de Karl Lagerfeld está sendo autenticado no blockchain público da Lukso Network.
Criar uma identidade digital pode ser cada vez mais importante para revendedores de luxo de segunda mão, um mercado em rápido crescimento.
Plataformas online como Hardly Ever Worn It e Vestiaire Collective precisam autenticar os produtos antes de vendê-los – o que é um processo de várias etapas envolvendo verificações digitais e físicas, diz Victoire Boyer Chammard, chefe global de autenticação da Vestiaire Collective.
“A falsificação existe há décadas e avança constantemente”, diz Chammard. A equipe de 60 autenticadores da Vestiaire verifica a documentação digital, incluindo fotos, antes de examinar cada item.
“A inteligência artificial (IA) e o blockchain podem ajudar a acelerar o processo de autenticação digital”, diz Chammard, acrescentando que isso ajudaria os autenticadores humanos em vez de substituí-los.
“Ainda precisaríamos de um especialista para realizar um exame físico para verificar todos os dados digitais”, diz ela, completando que, se as marcas de luxo usarem a mesma tecnologia, isso ajudaria os revendedores a acessar e usar as informações com facilidade.
Blockchain também pode ser útil para outros setores de luxo: arte, cosméticos, perfumes e móveis, podem se beneficiar.
No futuro, Ott diz que o livro-razão também poderá conter informações sobre manutenção e conservação do produto, ajudando a determinar melhor o valor de um produto para revenda.
A mais recente adição ao consórcio Aura é a montadora alemã Mercedes-Benz, que se juntou como membro fundador e planeja usar a plataforma para explorar diferentes aspectos da marca digital, como a criação de NFTs (tokens não fungíveis) para experiências de arte digital.
“Nossa medida de sucesso é integrar todas as marcas de luxo”, diz Ott.
*Rebecca Cairns para CNN Business