A resposta ajuda a entender por que esse mercado segue batendo recordes de vendas. Confira a seguir o que vem pela frente na indústria relojoeira
Por Ivan Padilla e Pedro Valente
As pessoas em geral compram relógios como acessório de moda, pelo status, pela arte mecânica. Não exatamente por sua função. E como têm comprado. O mercado vem batendo recordes nos últimos dois anos. Em 2022 a indústria relojoeira suíça movimentou 24,8 bilhões de francos suíços em exportações, segundo a Fédération de l’Industrie Horlogère Suisse. Foi o melhor ano da história. Antes disso, o recorde havia sido em 2021, com 22,3 bilhões de francos suíços.
Tudo leva a crer que 2023 será ainda melhor. No primeiro trimestre, as exportações alcançaram 6,5 bilhões de francos suíços. Foi um crescimento de 11,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, com 5,8 bilhões de francos suíços.
A razão da recente força dessa indústria tem a ver com a pandemia, que colocou em destaque produtos de luxo atemporais como reserva de valor. Isso tem favorecido também o mercado de segunda mão. De agosto de 2018 a janeiro de 2023, o preço médio dos principais modelos de Rolex, Patek Philippe e Audemars Piguet aumentou 20% ao ano, em comparação com uma taxa anual de 8% do índice S&P 500. O valor das peças usadas tem diminuído desde 2022, como consequência da queda do mercado de ações e de criptomoedas. Ainda assim, o saldo tem sido mais do que positivo.
Um olhar sobre o cliente final ajuda a entender a alta desse mercado. Os típicos compradores de relógios de luxo são os millennials de alta renda ou os homens da geração X, nascidos de 1965 a 1981, segundo um relatório da consultoria Boston Consulting Group.
As quatro categorias de consumidores
- Clássico Atemporal: geralmente investe em ativos financeiros tradicionais e aprecia produtos duráveis e confiáveis. Tende a ser comprador de frequência baixa.
- Profissional da moda: é culto e, em média, mais jovem. Prefere peças de luxo básicas, de alta qualidade ou exclusivas. Compra com frequência moderada, mas tem mais probabilidade de adquirir um relógio nos próximos 24 meses.
- Aficionado: gosta de relógios complexos, com forte herança de marca na categoria superluxo, onde geralmente se espera que o valor do relógio aumente com o tempo. É motivado por status.
- Investidor: é o mais ativo e prefere os modelos ultraluxuosos. Representam 44% dos compradores de relógios e têm participação de mercado de 58% em valor.
Trata-se de uma generalização, claro. Há consumidores que se identificam com mais de um perfil. Ou com nenhum. Independentemente da motivação do cliente no momento da compra, a hora do mercado é de celebrar. Preparamos para você um conteúdo especial com as tendências e os lançamentos do ano.
Cinco tendências
Modelos esqueletizados, caixas pequenas e materiais sustentáveis estão em alta Por Pedro Valente
1. Rolex não segue tendências
Ano após ano, a Rolex vem demonstrando quanto aprecia ser imprevisível e inovadora. O relógio que fez mais barulho no Watches & Wonders foi o “Emoji Watch”. Um Day-Date que, em vez de mostrar o dia, apresenta sete palavras inspiradoras (happy, eternity, gratitude, peace, faith, love e hope) e, no ciclope da data, alguns emojis. A verdade é que a Rolex sabe que ninguém compra um relógio apenas para ver as horas. Relógios precisam ser divertidos e, no final do dia, muita gente vai querer comprar o “Emoji Watch”, mesmo com o preço em torno de 55.000 dólares.
2. Relógios Unissex
Em 2021, já havíamos apontado uma tendência de relógios menores. Isso continua. Os dias de relógios maciços e pesados estão ficando para trás, enquanto os designs menores e mais elegantes começam a dominar. Alguns exemplos de 2023 foram os lançamentos da TAG Heuer, como o Carrera 36 milímetros, o novo Seiko 5, de 38 milímetros, e o meu favorito, Patek Philippe Aquanaut Luce. Segundo a Patek, a linha Luce foca o público feminino, mas, com o tamanho de 39,9 milímetros, eu usaria a referência 5261R em qualquer dia da semana.
3. Esqueletos
No mundo dos relógios, quando falamos de esqueletos nos referimo-nos à ausência do mostrador na face do relógio. São esteticamente belos, pois deixam a máquina com uma pegada bem industrial, mas em geral é difícil ler a hora neles. Neste ano a Cartier introduziu o Santos-Dumont Skeleton, cuja máquina mostra um minimodelo do avião usado por Alberto Santos Dumont; a TAG Heuer lançou o esportivo Monza Flyback Cronógrafo de carbono, e a Montblanc mostrou uma edição limitada de seu novo Minerva Cronógrafo Monopusher Esqueleto.
4. Materiais cada vez mais sustentáveis
A indústria da relojoaria de luxo vem se destacando pela experimentação com materiais sustentáveis. Além dos tradicionais ouro, prata, platina e aço inoxidável, muitas marcas estão buscando novos materiais. Um exemplo é o Hublot Big Bang, feito de cápsulas de Nespresso recicladas. A Panerai introduziu o uso de aço reciclado na fabricação de seus relógios. Já a Breitling lançou o relógio Superocean Heritage II Chronograph 44 Outerknown, que tem uma pulseira feita de Econyl, material produzido à base de redes de pesca de náilon recicladas.
5. Louis Vuitton aposta no mercado da alta relojoaria
A Louis Vuitton, uma das marcas mais icônicas da moda, está expandindo seu domínio para a manufatura de relógios sofisticados. Para isso, escalou Jean Arnault, filho de Bernard Arnault, CEO do grupo LVMH, como diretor de relógios na maison. Um exemplo é o Voyager Skeleton, lançado neste ano em edição de apenas 150 peças. Essa transição do design para a relojoaria funcionou melhor para marcas como a Bvlgari, que se posicionou muito bem com o modelo Octo Finissimo, e, mais recentemente, a Hermès, que vem investindo pesado na sua linha de relógios.
*Ivan Padila é editor de Casual e Especiais para Exame. Pedro Valente é Co-CEO e colunista na Exame.