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‘Joias de crioula’ são destaque na Festa da Boa Morte, em Cachoeira-BA

‘Joias de crioula’ são destaque na Festa da Boa Morte, em Cachoeira-BA

‘Joias de crioula’ são destaque na Festa da Boa Morte, em Cachoeira-BA

Peças são utilizadas por integrantes da irmandade, como símbolo de resistência

Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2010, a Festa da Boa Morte, que aconteceu na última semana, em Cachoeira-BA, celebra a resistência das mulheres negras, a religiosidade e a cultura afro-brasileira. Com mais de dois séculos de existência, a manifestação religiosa evidencia diversas tradições culturais afrodescendentes, entre elas, o uso das joias de crioula.

Acessórios que surgiram na Bahia durante o período colonial e foram se consolidando ao longo dos séculos XVIII e XIX, as chamadas joias de crioula são consideradas símbolo da resistência e de afirmação da identidade das mulheres negras, em especial das negras livres e libertas, que utilizavam as joias como uma forma de expressar ascensão econômica e social, reforçar os laços comunitários e culturais e fortalecer suas posições em suas comunidades e, em alguns casos, nas esferas mais amplas da sociedade baiana.

Joias de crioula em ouro. Bahia, séculos XVIII e XIX. Acervo Museu Carlos e Margarida Costa Pinto. – Crédito: Aníbal Gondim e Sérgio Benutti.

“Em uma sociedade marcada pelo racismo e pela escravidão, as joias eram um meio de afirmação de uma posição tanto no âmbito social quanto religioso. Além disso, as joias eram frequentemente adquiridas com o fruto do trabalho das mulheres negras, simbolizando a conquista de sua liberdade e independência financeira”, explica a museóloga Simone Trindade, diretora adjunta cultural do Museu Carlos e Margarida Costa Pinto. Localizado no Corredor da Vitória, em Salvador, o local possui o maior acervo de joias de crioula em museus.

Confeccionadas principalmente em ouro, a criação das joias utilizava técnicas altamente sofisticadas, inspiradas ou adaptadas de tradições africanas e portuguesas. Dentre as técnicas mais comuns estavam o trabalho em filigrana, que envolve a criação de delicados desenhos com fios de ouro, e a granulação, que consiste na aplicação de minúsculas esferas de ouro sobre a superfície das joias para formar padrões decorativos.

Durante a Festa da Boa Morte, as mulheres da irmandade usam essas joias como parte de sua vestimenta tradicional. A pesquisadora aponta que as joias não apenas embelezam as participantes, mas também reafirmam uma conexão histórica entre a resistência cultural e a expressão de identidade, essencial para a preservação das tradições afro-brasileiras. Assim, fortalecendo o elo entre o passado e o presente, mantendo viva a memória das mulheres que, mesmo em condições adversas, encontraram na fé e na cultura uma forma de resistência e empoderamento.

Joias de liberdade

Em busca de maior interação com o público e decorrente de pesquisas, atualmente, o Museu Carlos e Margarida Costa Pinto tem construído novas narrativas, mais inclusivas, renomeando as joias de crioula como joias de liberdade. “Essas joias não são apenas objetos de grande beleza e valor material, mas também carregam um profundo significado histórico e cultural, simbolizando a identidade afrodescendente”, reflete Bárbara Santos, diretora executiva do museu.

Ela também reforça que, ao preservar essas peças, “o público tem a oportunidade de conhecer e reconhecer a importância das contribuições das mulheres negras à história do Brasil”.

Os interessados em conhecer o acervo podem visitar o Museu Carlos e Margarida Costa Pinto, localizado no Corredor da Vitória, 2490, em Salvador. O local está aberto ao público de segunda à sexta-feira, exceto às terças, das 14h30 às 18h.

Com informação do Portal Turismo Total

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