Cheia de simbologia e história, é ela que segue brilhando nas últimas criações da casa romana
Por Guilherme de Beauharnais
Se para o calendário chinês o ano é do coelho, para o da alta joalheria a estrela é a serpente. Não qualquer uma, mas a Serpenti, da Bulgari. Em março, foi ela quem atraiu os convidados ao número 23 da Place Vendôme, em Paris, em uma coleção inédita de bolsas luxuosas, uma semana depois de serem exibidas na semana de moda de Milão. Mais ainda, é o réptil quem brilha na última coleção de alta joalheria da casa, “Mediterranea”, apresentada em Veneza durante um evento recheado de celebridades. De fato, a Serpenti é um dos ícones da Bulgari há décadas, mas 2023 traz uma comemoração especial: seus 75 anos.
A cobra, como motivo de joalheria, é bem mais antiga. Já era cultuada pelos faraós egípcios, com o nome de Uraeus, e se tornou um símbolo poderoso para os greco-romanos, associada desde a onipotência dos deuses, como as sacerdotisas de Apolo – batizadas de pítias, significando “serpentes” –, até monstruosidades, com Medusa e a Hidra de Lerna, ambas derrotadas por heróis clássicos.
Milênios mais tarde, a arte reviveu o apelo clássico e, já no início do século 17, o Palazzo Falconieri, na Via Giulia de Roma, estava decorado com o Ouroboros (a serpente da eternidade, dando a volta em si mesma e mordendo a própria cauda) nos tetos e paredes.
A Cidade Eterna também se tornaria a casa da Bulgari, fundada em 1884, acompanhada por uma verdadeira obsessão pela arqueologia e as modas do passado, da arquitetura aos mínimos acessórios. Aqui, os braceletes de cobra popularizados por Cleópatra em Roma retornaram em alta e, em 1839, a rainha Vitória ganhou do marido, o príncipe Albert, um anel de noivado em forma de serpente representando a imortalidade do amor. E foi mesmo, o amor, quem deixou Elizabeth Taylor aos suspiros pelas joias da Bulgari: em 1962, ela já ostentava a Serpenti nos pulsos, depois de ganhar o bracelete do affair, Richard Burton, enquanto protagonizava o filme em que interpretou a famosa rainha do Egito.
Milênios mais tarde, a arte reviveu o apelo clássico e, já no início do século 17, o Palazzo Falconieri, na Via Giulia de Roma, estava decorado com o Ouroboros (a serpente da eternidade, dando a volta em si mesma e mordendo a própria cauda) nos tetos e paredes.
A Cidade Eterna também se tornaria a casa da Bulgari, fundada em 1884, acompanhada por uma verdadeira obsessão pela arqueologia e as modas do passado, da arquitetura aos mínimos acessórios. Aqui, os braceletes de cobra popularizados por Cleópatra em Roma retornaram em alta e, em 1839, a rainha Vitória ganhou do marido, o príncipe Albert, um anel de noivado em forma de serpente representando a imortalidade do amor. E foi mesmo, o amor, quem deixou Elizabeth Taylor aos suspiros pelas joias da Bulgari: em 1962, ela já ostentava a Serpenti nos pulsos, depois de ganhar o bracelete do affair, Richard Burton, enquanto protagonizava o filme em que interpretou a famosa rainha do Egito.
Apesar da atriz de olhos violeta ter ajudado a transformar Serpenti em símbolo máximo de glamour, o design surgiu nos ateliês da joalheria ainda em 1948, de forma abstrata. A “cobra”, na verdade, era o formato da pulseira dos relógios, enrolada no pulso com o icônico ouro Tubogas da Bulgari – completamente amarelo, como era moda nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial.
Nos anos 1950, as serpentes começaram a ficar mais realistas: o minimalismo pós-conflito deu lugar à opulência das pedras preciosas coloridas e os designs reptilianos da Bulgari começaram a se encher de rubis, safiras e diamantes. As escamas em ouro e esmalte seguiram logo depois, ganhando popularidade na década de 1960.
Dos colares, anéis e braceletes, a Serpenti começou a se rastejar para todos os detalhes da casa e, hoje, também domina não apenas bolsas, mas o imaginário cultural da alta joalheria – um dos resultados mais evidentes do trabalho de Lucia Silvestri, diretora criativa da casa, focada em transformar o legado da Bulgari em tesouros luxuosos.
Da mesma forma que as serpentes trocam de pele, o ateliê romano se renova incansavelmente. E se o aniversário de 100 anos da Serpenti, em um quarto de século, promete algo, são novas iterações do animal até lá. Enquanto isso, os 75 estão com beleza de sobra!
*Guilherme de Beauharnais para Harper’s Bazaar