Em entrevista, Pierre Rainero, diretor de imagem e herança da marca, fala de seu trabalho de conectar o legado da marca aos novos lançamentos
Pierre Rainero está há 40 anos na Cartier e hoje ocupa a direção de imagem e herança da maison francesa, na sede em Paris. Em recente entrevista ao editor de casual e especiais da Exame, Ivan Padilla, em Genebra (Suiça), ele contou sobre o seu trabalho de vasculhar os arquivos e analisar o contexto em que cada relógio foi lançado, conectando a história da marca aos novos produtos.
Confira os principais trechos da entrevista:
Exame: Como é o seu dia a dia de trabalho, qual é a sua rotina?
Piero Rainero: Não tenho dois dias iguais, tenho muitos tópicos diferentes para lidar. Minha responsabilidade central é com o estilo. Tenho uma equipe grande, umas 70 pessoas, entre a parte de patrimônio, a parte de exposição, a parte de arquivos. Nem estou contando os departamentos de arquivo em Londres e Nova York. Temos a parte curatorial da coleção e a parte comercial para as peças antigas, também em Genebra. O departamento de exposições lida com museus e coisas do tipo.
O quanto seu trabalho se conecta com os lançamentos de cada ano?
Os trabalhos se conectam, claro, mas em diferentes níveis. O trabalho do meu departamento é enriquecer os outros setores sobre o que a Cartier representa. A primeira coisa que você precisa saber é que, dentro da empresa, as únicas pessoas que têm acesso livre aos arquivos são os designers. Mas além desse acesso livre por conta própria, meu papel é fornecer a eles uma análise do que estamos vendo e compartilhar com eles os principais princípios por trás de tudo. É explicar o como e o porquê. Porque na verdade os objetos foram criados em um certo contexto e esses princípios podem dar origem a outro tipo de objeto hoje porque o contexto é diferente.
O que faz a Cartier tão especial? É a beleza, é o design?
É a beleza do design (risos). Primeiro, mesmo que pareça um pouco ambicioso, a noção de beleza é essencial. Temos que estar convencidos de que o objeto é bonito. É claro, a beleza pode ser muito relativa, relativa à cultura, relativa a você mesmo. No nosso caso, é uma cultura da Cartier de beleza, estamos totalmente cientes de que temos nossa própria noção de beleza. É o nosso ponto de vista sobre o que torna um objeto bonito. Nosso trabalho diário é brincar com formas, criar formas, projetá-las. O que também devemos mencionar na Cartier é a constante preocupação que temos em criar objetos que sejam relevantes para os clientes de hoje. Sempre insisto nisso. Quando estamos diante de um novo projeto, um novo projeto criativo, as perguntas que levantamos são sempre as mesmas. Claro que tem que ser bonito, isso é essencial para nós. Mas há outro tipo de pergunta que devemos fazer: isso é relevante para o modo de vida das pessoas hoje? Está inserido naturalmente no modo como as pessoas vivem? Se você comprar um objeto apenas para colocar em um cofre ou para admirar em uma prateleira, acho que seria um fracasso. Estamos criando objetos para serem usados e usados. Se você não os usa, é um grande fracasso.
Depois de 40 anos na Cartier, como vê a empresa hoje? O DNA é o mesmo?
O DNA permanece o mesmo, mas a maneira como nos expressamos é obviamente diferente de como era há 40 anos. É isso que faz a diferença. Eu sempre falo sobre um tema que é a relação entre as leis do tempo e as leis da eternidade. É claro que as leis do tempo mudam. E acho que não podemos ignorar as leis do tempo, mas ao mesmo tempo há uma dimensão que eu chamaria de eternidade, que é o que permanece. O que nos cerca, de certa forma, é a nossa cultura. É nosso passado, nossos antepassados, é a maneira como vemos as coisas, a maneira como percebemos a beleza, a maneira como percebemos as formas. Acho que essas coisas são uma eternidade. E acho que isso também é uma coisa muito Cartier.
A entrevista completa está disponível aqui