Essas imensas camadas de peridotita apresentam uma concentração de diamantes de até 3%
Por Carlos Cardoso / Meio Bit
A cena do Pantera Negra com o asteróide de Vibranium criando os depósitos em Wakanda é uma das partes mais cientificamente corretas do filme. Quase todo o ouro e outros metais pesados que usamos vem de depósitos criados por impactos de meteoritos, milhões de anos atrás.
Não é que a Terra não tenha um bom estoque de minerais, mas por causa da gravidade os materiais mais pesados tendem a afundar, e mesmo que o chão não seja feito de farofa, depois de alguns bilhões de anos acaba acontecendo.
Para nossa sorte a Terra tem placas tectônicas que se espremem, deslizam umas sobre as outras, criam montanha e trazer à superfície material subterrâneo, mas ainda é uma fração ínfima do material total. As placas tectônicas têm no máximo 50 km de espessura (ou 100 km depende de quem você pergunta), até o centro da Terra são 6.371 km.
Um bom exemplo das riquezas ocultas no interior da Terra foi descoberto em uma pesquisa envolvendo Harvard, a UCSB e outras universidades. Estudando a velocidade de propagação de ondas sonoras é possível determinar o tipo de material que compõe as camadas do solo, mas dessa vez os números estavam… estranhos.
Os cientistas analisaram os dados de vários crátons, regiões do manto terrestre geologicamente mais estáveis que a média. Colocando os valores em softwares de simulação, eliminaram os minerais com velocidades de propagação diferente, até isolarem o único tipo de mineral com as exatas características observadas: peridotita.
Esse mineral tem muitas variantes, a mais famosa é o kimberlito, famoso por ser a fonte dos diamantes da África do Sul:
Essas imensas camadas de peridotita apresentam uma concentração de diamantes de até 3%, no total são milhões e milhões de toneladas dessa pedra preciosa que valem… nada.
Diamantes são valiosos por sua escassez, cuidadosamente mantida pela De Beers e outras empresas. Uma grande descoberta jogaria os preços no chão, e milhões de toneladas deles então tornariam diamantes mais baratos do que palitos de dente.
Para a sorte da De Beers, isso não vai acontecer. As camadas de Peridotita ficam entre 120 km e 150 km de profundidade. A mina mais profunda que temos, na África do Sul tem 4 km de profundidade. Ah sim, a temperatura aumenta à medida que a profundidade aumenta. A 150 km de profundidade os pobres mineiros teriam que enfrentar um calor de 1.300 graus Celsius. Mesmo a peãozada casca-grossa das minas da De Beers não aguenta mais que alguns dias nessas condições.
Isso significa que essa fortuna ficará para sempre inacessível? Provavelmente não. Em uns 100 ou 200 anos teremos condições de minerar a essa profundidade, provavelmente com drones, e provavelmente diamantes serão descartados, há elementos muito mais raros e úteis para se procurar.
De resto, sempre existe a possibilidade de minerar diamantes em asteróides ou viajar até Júpiter ou Saturno, onde segundo alguns modelos em determinadas altitudes a pressão é tanta que chega a chover diamantes. Se bem nesse caso é melhor mandar o estagiário com um balde do que gastar um robô que nem em sonho resistiria às pressões envolvidas.
Fonte: Meio Bit