Conheça o projeto de desenvolvimento de diamantes sintéticos sustentáveis
Por Felipe Miranda
Claro que isso não é literal, até porque o céu como algo tocável nem existe. O que chamamos de céu é praticamente uma ilusão da perspectiva de visão do espaço a partir da Terra. No entanto, o multimilionário Dale Vince descreve assim o seu projeto de desenvolvimento de diamantes sintéticos sustentáveis – diamantes “feitos de céu”.
Vince diz que faz os diamantes com carbono, água e energia extraído a partir de uma “instalação de mineração do céu”, localizada na cidade de Stroud, na Inglaterra. E bom, na verdade ele não extrai nada do céu, mas da atmosfera – a atmosfera sim é palpável. Ele extrai o dióxido de carbono (gás de efeito estufa) da atmosfera, coleta a água da chuva e utiliza energia elétrica obtida a partir da energia eólica e energia solar.
O dióxido de carbono (CO2) não é tão potente como gás de efeito estufa, em comparação com gases como o metano, se em quantidade iguais. No entanto, emitimos tanto CO2, que ele torna-se o principal responsável pelo aquecimento global. O efeito estufa é bom, pois ele quem mantém a Terra em uma temperatura habitável. No entanto, um efeito estufa amplificado destruirá a humanidade, além de grande parte da fauna e flora do planeta.
A própria extração de diamantes da natureza adiciona mais carbono à atmosfera. O diamante surge na natureza através do carbono sob muita pressão. Então, pressione o carbono em laboratório e você terá diamantes. A natureza leva bilhões de anos – um laboratório, um piscar de olhos. Não extraia diamantes, utilize diamantes “feitos de céu”.
Diamantes, puro carbono
Sabe qual é a fórmula do diamante? Carbono, assim como o grafite, o grafeno, além de diversos outros tipos de materiais. Chamamos diferentes materiais compostos pelos mesmos átomos de alótropos. O que muda entre eles são as ligações e os arranjos dos átomos. Ou seja, se diferenciam apenas estruturalmente.
Bom, já que o carbono compõe o diamante (que possui um mercado bilionário), por que não imitar as plantas? Sequestrar o CO2 da atmosfera, utilizar o carbono e liberar oxigênio de volta para a atmosfera é um dos principais papéis das plantas – em parte das florestas, mas principalmente das algas marinhas. Isso é algo bastante inteligente.
É claro que fabricar diamantes não acabaria com o aquecimento global. No entanto, há um lado excelente no projeto de Vince. A parte boa de seu plano é tornar o sequestro de carbono mais comum. Quero dizer que, não é uma fábrica de diamantes que acabaria com o aquecimento global. Até porque produzir tanto diamante causaria uma diminuição de preços e, consequentemente, não haveria mais nada para continuar a financiar o projeto.
No entanto, tornar o sequestro de carbono em um produto pode democratizar a tecnologia. O método é extremamente caro. Algumas empresas petroleiras o fazem, e inserem o carbono de volta no subsolo, após extrair o petróleo. Mas o fazem em um quantidade muito menor do que a emitida. Tornar isso comercialmente viável abriria as portas para a produção de outros compostos baseados em carbono em laboratório, como plásticos, o grafeno, entre outros materiais úteis para a indústria.
E a quantidade dos diamantes “feitos de céu”?
“Fazer diamantes com nada mais do que o céu, com o ar que respiramos – é uma ideia mágica e evocativa – é a alquimia moderna”, diz Vince ao jornal britânico The Guardian. “Não precisamos minerar a terra para ter diamantes, podemos minerar o céu”.
Vince gosta de atuar nas novidades ‘eco-friendlies’. Além do diamante “feito de céu”, ele também é dono da Ecotricity, empresa especializada na produção de energia a partir de fontes limpas e do Forest Green Rovers, o primeiro time de futebol vegano da Grã Bretanha.
Ele espera produzir cerca de 200 quilates por mês utilizando o gás carbônico (cerca de 40 gramas), e quer aumentar para 1000 quilates (200 gramas) ao mês, futuramente. Parece pouco, mas segundo o Serviço Geológico do Brasil, o quilate do outro pode chegar a 63 mil dólares, dependendo da qualidade. Isso quer dizer que produzir 1000 quilates por mês traria ganhos até superiores aos 50 milhões de dólares ao mês – sem descontar os gastos de produção. Mas é claro, se muita gente passar a produzir diamantes sintéticos, em algum momento o preço cairá.
Fonte: Socientifica