Quiosques premium deixaram de ser “pontos complementares” para se tornarem vitrines de posicionamento e performance
Por Rafael Borges*

Durante décadas, o luxo no varejo foi sinônimo de metragem, endereços emblemáticos e experiências exclusivas em grandes lojas de rua. Mas esse modelo está mudando. A nova geração de consumidores, mais conectada, prática e consciente, vem forçando o setor a repensar o que significa ser premium. Hoje, a sofisticação está menos ligada ao tamanho e mais à inteligência da operação. O luxo contemporâneo é sobre propósito, conveniência e personalização.
Esse movimento é visível no Brasil. Segundo dados da Euromonitor International, o mercado de luxo deve crescer 4,5% ao ano até 2028, ultrapassando R$ 90 bilhões em faturamento. Ao mesmo tempo, o varejo físico, antes desacreditado pela digitalização, voltou a ser estratégico.
De acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), o setor registrou crescimento de 1,9% nas vendas em 2024, atingindo R$ 198 bilhões. Dentro desse contexto, formatos mais enxutos, como os quiosques premium, se tornaram uma das formas mais inteligentes de expansão.
Inspirado em modelos internacionais, como os shoppings de Dubai e Londres, o formato brasileiro ganhou sofisticação própria. Hoje, ele movimenta cerca de R$ 2,8 bilhões por ano e, segundo levantamento da FACStore, cresce acima de 20% ao ano em shoppings de alto padrão. A razão é simples: custo de instalação até 60% menor do que o de uma loja tradicional, tempo de montagem reduzido e retorno rápido do investimento, sem abrir mão do design ou da experiência.
Os quiosques de luxo deixaram de ser “pontos complementares” para se tornarem vitrines de posicionamento e performance. Stefan Behar, por exemplo, apostou em espaços compactos dentro de shoppings premium, com design de alto impacto e iluminação sensorial.
O resultado foi um modelo de expansão escalável, com forte apelo estético e desempenho de vendas equivalente a lojas comuns. A Vic Beauté, marca de cosméticos fundada por Victoria Ceridono, também segue a mesma lógica, com layouts assinados que equilibram fluidez e identidade visual.
E essa mudança reflete uma nova lógica de expansão no varejo premium. O quiosque bem planejado é um formato de alta precisão. Ele exige estratégia, conhecimento de operação e domínio da jornada do consumidor. Quando bem estruturado, entrega o mesmo resultado de uma loja completa, com menos espaço, menor custo e mais inteligência comercial.
O fenômeno também está alinhado à macrotransformação do luxo global. A Bain & Company aponta que o consumo de luxo pessoal deve crescer 8% em 2025, impulsionado pelo público millennial e pela geração Z, que buscam acessibilidade emocional em vez de status. No Brasil, isso se traduz na escolha por formatos que combinam praticidade e experiência, como corners, pop-ups e quiosques sensoriais.
Essa tendência não se restringe às grandes marcas. Grifes como Pati Piva (gastronomia de luxo) e Dengo Chocolates (chocolateria premium) também encontraram nos quiosques uma ferramenta eficiente de expansão. São operações que unem propósito e conveniência, permitindo estar mais próximas do cliente sem perder a aura de exclusividade.
Além de expandir vendas, o formato se mostra um laboratório de marca. Cada quiosque funciona como uma célula viva do negócio, capaz de testar produtos, ajustar mix e mapear o comportamento de compra. As marcas que entendem isso deixam de ver o ponto físico como custo e passam a enxergá-lo como ativo estratégico.
Outro fator que impulsiona o setor de quiosques é o custo imobiliário dos grandes centros. Em shoppings de alto padrão, o custo com o metro quadrado pode ser até 70% menor do que o de uma loja âncora, considerando valores mais baixos para folha de pagamento e custo operacional.
Com a retomada do fluxo de consumidores e o fortalecimento dos hubs urbanos, essa configuração tornou-se a preferida entre marcas de luxo emergentes e empreendedores que buscam escalabilidade sem comprometer o posicionamento.
Mais do que uma tendência arquitetônica, trata-se de um novo mindset de negócios. O luxo de hoje é feito de decisões inteligentes: espaços menores, processos mais eficientes e experiências mais próximas, literalmente, visto que o quiosque posicionado no meio do corredor facilita o contato direto entre atendente e cliente. O que define o sucesso não é mais o tamanho da loja, mas a força do conceito.
A estética continua essencial, mas agora ela vem acompanhada de propósito e resultado. O desafio do varejo de luxo é unir beleza e performance. Cada metro quadrado precisa emocionar e, ao mesmo tempo, vender.
O varejo físico, longe de estar em crise, vive uma de suas fases mais criativas. E o quiosque premium, antes coadjuvante, assume agora o papel de protagonista: o novo palco do luxo contemporâneo, compacto, inteligente e profundamente conectado ao tempo em que vivemos.
*Rafael Borges é arquiteto e CEO da FACStore, especializada em quiosques premium e varejo de luxo, tendo com projetos para marcas como Stefan Behar, Vic Beauté e Isabela Akkari.

