Em entrevista exclusiva ela fala sobre olhar autoral, cópia, novo momento e os futuros planos da marca, que incluem expansão internacional.
Por Vinicius Alencar*
Quando surgiu há 8 anos, Paola Vilas inaugurou uma nova forma de se comunicar, uma linguagem criada a partir das artes plásticas, da celebração do feminino e da ressignificação do sentido da joia. Louise Bourgeois, o surrealismo, o corpo humano, Jean Genet e até David Lynch convivem em total harmonia no seu universo inventado, que conquistou uma série de fãs e foi para além do território nacional – das Maldivas ao Japão, do Canadá a Coreia do Sul.
Depois de se aventurar na criação de mobiliário e em peças únicas, Paola agora se volta para o acessório favorito da moda: a bolsa. O start se dá com o lançamento da bolsa Louise, cujo nome vem de sua artista-obsessão, em formato de meia lua e alça que é uma verdadeira joia de vestir. Em conversa exclusiva com o editor de moda Vinicius Alencar, a designer fala sobre os desafios da criação, nova fase, olhar autoral e próximos passos.
1. Paola, quais são os maiores desafios de chegar aos 8 anos de marca? Acredito que, após a curiosidade inicial, seja difícil dar continuidade, não?
O desafio é sempre se reinventar criativamente, mantendo o núcleo de linguagem da marca, mas criando novas histórias dentro desse universo. Penso nisso como um autor que escreve diferentes livros, mas com um estilo próprio. Além da criação de coleções, também me fascina explorar outras áreas, como cenografia e mobiliário, que têm ganhado reconhecimento internacional. Aprender a desenvolver algo totalmente novo, do zero, é o que mantém viva tanto minha curiosidade quanto a dos nossos colecionadores. Internamente, estamos sempre nos desafiando, buscando crescer, aprimorar e nos divertir ao longo do processo. Com a bolsa, por exemplo, tivemos que mergulhar e aprender sobre um novo universo, o que traz frescor para a marca e para nossos colecionadores, que embarcam nessa jornada conosco. Todos os anos apresentamos ao menos duas novidades inusitadas e impactantes além das coleções regulares. Isso pode ser uma nova categoria de produtos, a abertura de uma pop-up… algo sempre marcante, mas fora do esperado.
2. A bolsa simboliza um novo momento na marca, para além do lançamento em si?
Sim, certamente. Esse ano é marcante para nós, pois celebramos 8 anos de marca. O lançamento de nossa bolsa-escultura simboliza a abertura desta nova categoria e reforça nossa essência que sempre experimenta novas possibilidades de expandir nosso universo de investigação do feminino e os desdobramentos da nossa linguagem conceitual e visual. Reforçamos o fato da bolsa e até suas embalagens serem 100% feitas no Brasil. Temos orgulho de sermos uma marca nascida no Rio e que conquistou projeção global dentro do mercado de luxo que é tão competitivo.
3. No início, você lidou com várias marcas, até redes de fast fashion, que copiavam seu trabalho, mas você se manteve fiel ao seu estilo. Que conselho daria para quem enfrenta uma situação parecida?
Até hoje passamos por isso, mas aprendemos a lidar com o processo. Acredito que acertamos em construir algo muito especial: uma rede de clientes com vínculos verdadeiros e intimidade, que começam suas coleções conosco e seguem colecionando as peças. Mesmo com as cópias – que nosso time jurídico trata – o produto nunca fica idêntico, e quem tem um olhar atento e íntimo percebe a diferença e até briga por nós. Além disso, as pessoas não compram apenas o produto em si, mas o universo da marca, o atendimento, a experiência de compra, as lojas… o produto é uma parte de um universo/ecossistema múltiplo que também é cuidado por nós com muito carinho e atenção. A cópia, em certo sentido, também é fruto do sucesso; significa que a identidade que criamos é tão desejada que conquistou um espaço que transborda. Quando até o fast fashion copia -que é tão estratégico e criterioso no que escolhe reproduzir, isso é um termômetro de que a marca é extremamente relevante. Diante de tudo isso, o mais importante é sempre se manter inovador, criando peças que surpreendam especialmente nossos primeiros clientes, aqueles que conhecem nosso universo e nossas criaturas de perto e continuem a instigar.
4. E quais os próximos passos? Você já possui dois pontos físicos, pontos de venda internacionais… fez mobiliário… Tem ainda algo que gostaria de tirar do papel?
A bolsa-escultura era um sonho antigo que finalmente nasce e já temos encontros criativos importantes planejados para o próximo ano. Hoje uma das frentes que mais crescem dentro da marca é o nosso site internacional, onde fazemos vendas para clientes de todo o mundo, com mais de 150% de crescimento em relação ao ano anterior. Nossas redes sociais também têm quase 50% de seus acessos internacionais e este número cresce de forma orgânica. É um bom norte para os próximos passos que daremos. Além disso, seguiremos nossa missão de buscar sempre o aprimoramento de todas as nossas frentes e o fortalecimento de vínculos com nossa comunidade de colecionadores. Estamos muito animados com o que está por vir!
*Entrevista para FFW