Pingente da ourivesaria minoica divide arqueólogos há quase um século, com interpretações sobre abelhas, vespas e frutos sagrados

Descoberto no ano de 1930 no cemitério de Crisolaco — conhecido como “poço de ouro” — na antiga cidade minoica de Mália, em Creta, um pequeno pingente de ouro continua desafiando especialistas. A joia, datada do segundo milênio a.C. e hoje exposta no Museu Arqueológico de Heraclião, mede 4,6 cm, pesa 5,5 gramas e é considerada uma obra-prima da arte em miniatura minoica.
O pingente mostra dois insetos posicionados frente a frente, unidos pela cabeça e pelo abdômen, com as asas abertas para trás. Eles parecem segurar uma fileira de contas concêntricas, enquanto três pequenos discos pendem das asas e do corpo. Para alguns estudiosos, tratam-se de abelhas europeias (Apis mellifera) no processo de produzir mel, uma interpretação que reforça o papel do mel, da cera e das abelhas na economia e na religiosidade minoica, bem como no antigo mundo grego.
Pingente de abelha
Mas a simbologia do pingente não é consenso. Em 2021, um grupo de pesquisadores liderado pelo botânico E. Charles Nelson contestou essa leitura. Para eles, os discos poderiam representar os frutos de uma erva mediterrânea comum em Creta (Tordylium apulum). Nesse caso, os insetos retratados se assemelhariam mais à vespa-mamute (Megascolia maculata), cuja forma de se alimentar — agarrando flores com o abdômen curvado e asas abertas — lembra a cena gravada no ouro.
Alguns especialistas sugerem ainda uma solução intermediária: talvez o ourives quisesse retratar abelhas, mas tenha usado vespas como modelo.
Qualquer que seja a resposta, permanece o fascínio em torno do pingente de Mália, um objeto que atravessou milênios sem perder seu poder de intrigar. Para além da disputa científica, a peça é celebrada como testemunho do virtuosismo técnico dos artesãos minoicos e como uma representação simbólica do mundo natural de Creta, repercute o Live Science.
* Felipe Sales Gomes para Aventuras Na História

