Em entrevista, Antonie Pin fala sobre identidade da marca, fidelidade ao DNA, mercado de usados, mudança do consumidor e ponto de venda
Em dezembro, o head de relógios da Bvlgari, Antoine Pin, conversou com exclusividade com o portal CPPLuxury, destacando que ‘restrições criam genialidade’. Acompanhe abaixo os principais pontos da entrevista.
CPP: Alguns argumentam que as principais marcas de relógios de luxo estão adormecidas nesses dois anos. O que impulsiona a vibração incrível nos relógios Bvlgari?
AP: As pessoas dizem que as restrições criam genialidade. Diria que o fato de termos identificado e comunicado claramente o nosso ‘campo de jogo’, ou seja, o território da nossa expressão relojoeira, fez com que a nossa criatividade fosse liberta. Nosso objetivo é expressar nossa identidade joalheira e a cultura italiana nos objetos mais bonitos que dão tempo. Este apelo é para embelezar o tempo em todas as formas possíveis: construções arquitetônicas em simbiose com a inovação relojoeira, cravação de gemas e arte joalheira, relógios de carrilhão que encantam quem os ouve. Obviamente, a excelência técnica e o engajamento excepcional das equipes estão fazendo a diferença.
CPP: O perfil do consumidor mudou? Isso tem influenciado o desenvolvimento do produto?
AP: Com o crescente sucesso da marca em relógios, nossos designs, de certa forma, se tornaram mais clássicos e tiveram um reconhecimento mais amplo por uma população diferente. Hoje, podemos encontrar aficionados por relógios em nossas butiques, bem como jovens clientes que desejam comprar um “valeur sure” como o relógio BB.
Os gostos mudam. O “Air du Temps” acontece para todos nós. Também estamos muito curiosos para entender e integrar novas tecnologias que permitam novas criatividades. Nosso estúdio integra esses fatores: eles são buscadores de tendências e criadores de tendências. Mas eles DEVEM permanecer fiéis à nossa identidade, ao famoso “campo de jogo” natural.
Temos um processo de desenvolvimento de produtos baseado em tendências, preço e determinada área geográfica/país, que sempre parte da reavaliação de nossa identidade, cultura e visão. Com a definição do briefing do produto vêm algumas considerações em relação ao mercado e o preço é um elemento importante, assim como algumas especificidades ligadas aos produtos. Outros elementos contingentes têm uma importância mínima no processo de desenvolvimento.
CPP: Assim como na moda, algumas marcas de relógios contam com consumidores que colecionam determinados produtos que têm um aumento garantido de preço ao longo do tempo. Qual é a sua opinião?
AP: Está correto! O valor de revenda é um elemento que, para uma certa parcela de clientes, é considerado na hora da decisão da compra. Isso vale tanto para joias quanto para relógios.
O mercado de segunda mão é outro canal que ganhou destaque nos últimos anos. Casas de leilões e revendedores vintage desempenham um papel fundamental, assim como sites dedicados aos produtos usados.
CPP: Como o tripé marketing, vendas e comunicação dos relógios mudou?
APP: Minha forte convicção é que a estratégia do produto é o coração de todo o processo. Os valores e a visão da marca encontram sua tradução nessa estratégia. Começa com marketing e funde com design, desenvolvimento, produção até ferramentas de comunicação e cerimônia de vendas.
Hoje, o tempo de lançamento no mercado diminuiu tanto que temos que alinhar o máximo possível a data de ‘prateleira’ aos anúncios.
Ao mesmo tempo, a consistência da visão de longo prazo é extremamente importante para garantir a clareza de nossa comunicação e posicionamento. Portanto, estamos equilibrando reatividade e agilidade extremas, por um lado, e estabilidade estratégica, por outro. É uma espécie de ginástica intelectual contínua.
CPP: Até que ponto o atacado ainda é relevante para seus relógios?
AP: Atacado e varejo se somam. O mercado de relógios é extremamente maduro e competitivo. 90% dos relógios são vendidos por marcas que os clientes procuram. O que não é o caso das joias. É por isso que o atacado é tão relevante.
Chamamos os atacadistas de nossos parceiros de negócios, porque eles são realmente nossos parceiros.
Junto com a imprensa, os varejistas oferecem um palco para os clientes compararem as peças de várias marcas. Ao mesmo tempo, em nossas boutiques, os clientes podem experimentar toda a extensão da marca e ver todas as coleções. São duas formas diferentes de comprar os produtos, dependendo da prioridade do cliente