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“The Carties” é o novo livro da joalheria francesa

“The Carties” é o novo livro da joalheria francesa

“The Carties” é o novo livro da joalheria francesa

A obra conta a história da família por trás do império das joias

Erica Mendes

The Cartiers’ é o novo livro da icônica joalheria francesa Cartier, lançado em novembro. Diferente das outras publicações da marca, essa obra não é editada pelo grupo Richemont, a qual a joalheria é atualmente subsidiária, e nem é dedicada às suas belas joias. Ela é escrita por Francesca Cartier Brickell, neta de um dos três personagens centrais da trama, e conta a história da sua família que construiu um império ao longo de quatro gerações, da França revolucionária até a década de 1970.

Ela discorre sobre os netos do fundador Louis-François Cartier, os irmãos Louis, Pierre e Jacques, que transformaram a humilde joalheria parisiense em um ícone de luxo global com o lema ‘nunca copie, apenas crie’.

Francesa conta que “Louis, o mais velho, era uma espécie de gênio criativo. Foi ele quem inventou o primeiro relógio de pulso masculino para ajudar o amigo aviador Alberto Santos-Dumont a contar as horas sem tirar as mãos dos controles de sua máquina voadora. De tanto escutar o amigo reclamando, ele teve a ideia de conectar um dispositivo de indicação de tempo ao pulso. E Santos era o melhor embaixador da marca na época, porque ele era uma celebridade que tornava aceitável para um homem usar um relógio”. Sobre o irmão do meio, ela revela que “Pierre era um homem de negócios de verdade. Ele era brilhante com as pessoas e fez alguns negócios fenomenais, como vender um colar de pérolas de fita dupla em troca de um prédio que até hoje continua sendo a sede da Cartier em Nova Iorque, na Quinta Avenida”. E sobre o seu avô, o caçula Jean-Jacques, Francesca o descreve como uma mistura de seus irmãos e também o especialista em pedras preciosas. “Foram suas viagens à Índia em busca dos melhores exemplares que deram à Cartier acesso aos melhores rubis, esmeraldas e safiras do mundo, inspirando as famosas joias da coleção Tutti Frutti”.

Os três irmãos Cartier com o pai em 1922. Da esquerda: Pierre, Louis, Alfred e Jacques Cartier. Crédito: Arquivo família Cartier

Ao contrário do que a maioria pensa, a família Cartier era de origem modesta. “Acho fácil presumir que Cartier sempre foi uma marca grande e bem conhecida. Mas, na verdade, foi realmente difícil para as duas primeiras gerações, pois elas lutaram contra revoluções e guerras. E foi apenas a terceira geração, quando Louis e seus irmãos entraram em cena, que começou a fazer algo um pouco diferente dos seus colegas, criando as peças no estilo Cartier. E foi esse estilo – muito leve, muito elegante, muito delicado – especialmente combinado com o uso de platina, que permitiu a Louis criar as tiaras que quase pareciam rendas – muito diferentes do tipo de joias desajeitadas da época”, revela a autora.

No livro Francesca destaca que o vínculo entre os irmãos e suas habilidades individuais e, portanto, complementares, foram os responsáveis pelo sucesso. “Eles foram criados sem privilégios. O pai deles tinha uma pequena joalheria em Paris e eles cresceram em cima da loja. Uma das histórias favoritas do Jacques era quando eles ainda pequenos queriam deixar seu avô e pai orgulhosos com o sonho de transformar a joalheria da família na principal joalheria do mundo. E para isso, eles fizeram um mapa do mundo e Louis pegou um lápis e disse:  nós vamos dividir isso entre nós – dividir e conquistar. Eu vou tomar Paris (porque naquela época, no final do século 19, Paris era a capital do mundo cultural). Pierre, o irmão do meio, disse que tomaria a América, com Nova York como sede. E coube a Jacques, meu avô, ter a Inglaterra e, com isso, o Império Britânico. A razão pela qual meu avô adorava essa história é porque foi isso que, de fato, aconteceu”.

Vista aérea do showroom da Cartier na cidade de Nova York em 1947. Crédito: Alfred Eisenstaedt / The LIFE Picture Collection, via Getty Images

Ela também relata que Cartier desenvolveu uma reputação de ‘vendedor honesto e confiável’. E, ao longo dos anos, a família melhorou sua posição social na classe comercial, se tornando amigos dos Faberges, Van Cleefs e Arpels. A empresa foi designada como “rei dos joalheiros e joalheiro dos reis” por seu cliente regular Edward VII.

Francesa discorre que a discrição era primordial para um joalheiro da elite. E que Cartier administrou o complicado ato de equilibrar a manutenção da privacidade de sua clientela enquanto ainda capitalizava seu influente nome. “Eles fizeram uma pesquisa cuidadosa com seus clientes observando gostos individuais e ganhando confiança em troca. Meu avô lembrou que em vez de existir apenas um cartão de cliente para o homem que estava comprando as joias, também tinham os cartões separados para os destinatários. A ideia era que o vendedor evitasse ‘falhas’ dessa maneira”, conta a autora.

Como todo negócio, nem tudo é fácil. A empresa passou por duas guerras mundiais, a Grande Depressão e um século de mudanças de gostos e estilos, além de quatro gerações de personalidades e abordagens diferentes. E tudo isso teve um preço. A mesma discrição e toque pessoal que ajudaram a empresa a suportar – o que um jornal contemporâneo denominou “a reserva tradicional de um joalheiro da sociedade” – foram ofuscados pela proeza publicitária de marcas como De Beers e Tiffany, no meio do século. Após 115 anos, Cartier foi vendida.  “Meu avô foi o último da família a administrar a empresa. Quando dei a ideia do livro ele relutou em discutir a história inicial da Cartier, pois tinha vergonha de ter sido sua geração que falhou em manter a empresa na família”.

The Cartiers’ também oferece uma visão por trás das cenas das joias mais icônicas da empresa – o notoriamente amaldiçoado Diamante Hope, as esmeraldas Romanov, as peças clássicas de pantera – e a longa fila de estrelas dos mundos da moda, cinema e realeza que usavam, desde marajás indianos e grã-duquesas russas até Wallis Simpson, Coco Chanel e Elizabeth Taylor.

Publicado pela Penguin Random House no ano do ducentésimo aniversário do nascimento do fundador da dinastia, o livro é resultado de anos de pesquisas independentes da autora. Baseado nas memórias de seu avô, nos arquivos de sua família e em suas viagens, ela o descreve como uma história social épica magnífica, mostrada através das lentes profundamente pessoais de uma família lendária.

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