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Van Cleef & Arpels: joias que contam horas

Van Cleef & Arpels: joias que contam horas

Van Cleef & Arpels: joias que contam horas

Joalheira por excelência, a Van Cleef & Arpels tem uma maneira muito particular de marcar a passagem do tempo. E traz para a coleção de alta relojoaria de 2023 mecanismos delicados e mágicos, em peças inspiradas na natureza.

Por Karina Hollo

Relógio Perlée, de ouro amarelo, sodalita, madrepérola branca, diamantes, Movimento Swiss Quartz.

Quando adentra o universo da alta joalheria, a Van Cleef & Arpels cria “complicações poéticas”. Foi assim que o CEO da maison Nicolas Bos me explicou os minuciosos movimentos mecânicos desenvolvidos para que borboletas batam suas asas ou para que bailarinas dancem ou para que fadas usem sua varinha mágica. Seus relógios, definitivamente, não se limitam a pulseiras. Podem ser broches, colares, até caixas em dimensões aumentadas. São joias que contam as horas – e não há melhor exemplo disso que seus relógios secretos, um fascinante jogo de esconde-esconde com o tempo. Em entrevista exclusiva à L’Officiel, em Genebra, durante a Watches & Wonders, Nicolas fala sobre os códigos centenários da maison, a identidade da marca, como continua encantando gerações ao redor do globo e suas inspirações eternas – o acervo da marca e a natureza.

L’OFFICIEL Van Cleef and Arpels é uma empresa francesa com quase 130 anos de tradição. Um ícone de luxo desejado por amantes de joias. Como a marca traz essa magia para a alta relojoaria de 2023?

NICOLAS BOS: Acho que o que nós tentamos fazer é continuar a expressar a identidade da marca – definida no início do século 20 e depois enriquecida ao longo das décadas. Trata-se realmente de uma questão de continuidade. Tentamos, sim, encontrar novas interpretações, novos capítulos dessa história, usando um artesanato de excelência.

Quando falamos de relógios, existem duas maneiras de fazer isso. Uma é continuar a contar as histórias do nosso acervo, uma fonte de inspiração muito importante, usando as possibilidades de movimentos mecânicos para dar vida a elas. E foi assim que criamos o que chamamos de complicações poéticas. Tentamos encontrar maneiras de usar o movimento mecânico para, por exemplo, dar vida à borboleta para que ela bata suas asas, ou para dar vida à bailarina para que ela dance. Isso é realmente, digamos, uma abordagem muito específica para a fabricação tradicional de alta relojoaria, onde você usa o movimento não apenas para medir o tempo ou para medir o desempenho, mas realmente para contar a história. E o outro aspecto é integrar uma funcionalidade de relógio bastante simples em uma peça de joalheria. Foi essa a abordagem original dos joalheiros quando se tratava de relógios. Não era tanto sobre desenvolver movimentos ou para realmente trabalhar na precisão da marcação do tempo – que era o mundo do relojoeiro. Era mais para integrar a funcionalidade do relógio, portanto, um mostrador e o movimento do relógio em uma peça de joalheria. Não se limita a uma pulseira. Pode ser um broche, pode ser um colar, às vezes pode ser uma caixa e, às vezes, uma pulseira.

Chamamos de joias que contam as horas. E aqui a joia é o elemento primordial e o trabalho é muito no design, na decoração e no uso artesanal da joalheria, trabalhando, assim, o metal, colocando as pedras e um movimento ao redor do relógio. E de certa forma, é um pouco como quando você cria, digamos, um solitário ou um colar em torno de uma única pedra importante. Você seleciona a pedra e depois cria a joia ao redor dela. Aqui você seleciona o movimento, seleciona o relógio e cria as joias ao redor dele.

L’O Quem é a mulher que usa relógios Van Cleef & Arpels? O que ela procura? O que deseja? O que a encanta?

NB Acho que provavelmente é impossível estabelecer um perfil. Sabe, às vezes você imagina que determinada peça vai agradar alguém jovem e ela acaba sendo a preferida de uma pessoa um pouco mais madura. O que toda mulher Van Cleef & Arpels compartilha é um interesse real no mundo da joalheria e do artesanato. Ela, de alguma forma, tem que apreciar a qualidade das pedras, a qualidade do design. Assim, eu diria que existe uma valorização do estilo e da filosofia da marca, que tem muito a ver com poesia, celebração do movimento, inspiração na natureza. Usamos essa fórmula com muita frequência. Temos uma visão positiva da vida. Algumas casas expressam muito mais poder ou força.

Nós preferimos uma expressão de leveza, fragilidade, movimento. Por isso, depende mais da personalidade do que da idade. Mulheres, ou homens, têm personalidades multifacetadas. E em alguns dias você pode querer expressar algo muito poderoso e forte, em outros algo muito sutil e delicado.

Nicolas Bos CEO VAn Cleef & Arpels

L’O Como o legado da marca vem sendo trazido para as novas gerações?

NB Muito com essa ideia de continuidade. Acho que nunca tentamos apelar para uma geração específica ou uma cultura específica ou país específico. Somos joalheiros. Tentar adivinhar qual é a expectativa de uma determinada categoria de consumidores aumenta o risco de você se perder. Não funciona para nós. A gente tenta ser o que a gente é. Tivemos sorte ao longo de mais de um século e descobrimos que muitas de nossas inspirações são bastante universais e atraem um grande número de pessoas. Porque o que celebramos, mais uma vez, é o movimento da natureza, algo bastante apreciado em muitas civilizações e culturas. Portanto, permanecemos fiéis a essa identidade e, é claro, porque vivemos no mundo de hoje, usamos as ferramentas e os canais apropriados para divulgar isso. O mundo digital fornece oportunidades fenomenais de contar histórias para compartilhar conhecimentos de uma maneira muito mais ampla do que antes. Então, nós abraçamos essas ferramentas – mas sem deixar que elas nos moldem. Tentamos encontrar a melhor forma de explicar quem somos e o que fazemos a todas as gerações de clientes.

L’O Os diamantes, uma paixão da Casa, são os protagonistas da coleção 2023?

NB Vamos dizer que a joia é muito protagonista desta coleção. No ano passado, tivemos mais uma celebração de complicações e movimentos poéticos, contando histórias por meio de artes mecânicas. Neste ano, é realmente sobre joias – e, claro, diamantes, mas de pedras preciosas em geral. Você sabe que um componente muito importante do trabalho de design na definição básica de joalheria é realmente criar formas em metal e integrar pedras a ele. Entre as pedras, os diamantes, por muito tempo e por muitas razões, foram a primeira escolha ou a escolha mais óbvia em Van Cleef & Arpels. Muitas vezes, eles são complementados com pedras coloridas e ornamentais que temos no acervo. Tentamos usar praticamente toda a paleta de cores fornecida pela natureza traduzidas em metais e pedras preciosas.

L’O Relógios secretos estão frequentemente nas coleções – e eles são simplesmente incríveis. É como um jogo de esconde-esconde com o tempo?

NB Sim, essa é uma boa maneira de colocar. Acho que há muitas razões para relógios secretos. Havia uma tradição, provavelmente ainda existe, de que ninguém deveria ser visto olhando as horas porque era considerado um pouco grosseiro. Se você está em um jantar ou uma festa e olhar a hora, é como se quisesse ir embora. Então, joalheiros e artesãos tentaram encontrar maneiras de esconder o relógio. Assim, você podia olhar de forma bem discreta, sem ser visto. Acho que se tornou quase um exercício e um desafio para o artesão esconder o relógio. E também há um elemento estético: quando você está trabalhando em uma peça de joalheria e quer realmente trabalhar na consistência da peça. Digamos, por exemplo, que você esteja trabalhando em uma pulseira de rubi. E a hora quebra de alguma forma a continuidade do design. Nesse caso, é muito importante que você a esconda para poder ver a pulseira completa, e o relógio somente se você pressionar um mecanismo, um pequeno elemento ou levantar uma pequena aba. Então, você verá o mostrador. Mas depois vai poder fechá-lo, o que trará de volta a integridade total da peça. Portanto, existem algumas razões por trás dos relógios secretos e também é uma brincadeira de mecanismo, um desafio do artesão de encontrar diferentes maneiras de ocultar mostradores – uma arquitetura que remonta à década de 1940. Gostamos de criar pulseiras nas quais você não pode imaginar que há um relógio por baixo, com um movimento muito lúdico e muito simples, apenas pressionando os dois círculos para que as abas se abram, por exemplo. Os relógios secretos são como o abrir de uma janela, de certa forma, uma maneira muito interessante e fluida de revelar o tempo, que reinterpretamos na coleção deste ano.

Relógio Secreto Ludo Secret, de ouro rosé, safiras rosas, madrepérola branca, Movimento Swiss Quartz. // Lady Féerie Or Rose watch, 33mm, de ouro rosé, diamantes, mostrador em ouro rose e ouro branco, safiras rosas, diamantes, madrepérola branca, opaca e esmalte plique-à-jour.

L’O A Van Cleef & Arpels nasceu de uma história de amor. Como tempo e amor se relacionam?

NB Eles estão muito interligados, de maneiras diferentes. Acho que às vezes o amor pode ser algo que dura muito, pode ser eterno. Por outro lado, o amor também pode ser uma celebração do instante, apesar de sempre haver uma espécie de busca pela eternidade – pelo menos é isso que você vê nos filmes de Shakespeare, que existe essa ideia de o amor ser absolutamente efêmero por natureza, mas existe sempre a vontade de fazer aquele momento fugaz durar para sempre. É quase impossível? Pois é o que o torna encantador, desejado e apreciado. Sem dúvida, a relação do tempo e do amor é bastante forte.

*Karina Hollo para L’OFFICIEL

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