Apesar de melhora, consumo ainda tem recuperação gradual e está longe do período de euforia
Luiz Guilherme Gerbelli e Luísa Melo / G1
O final do ano deve trazer algum alívio para o varejo brasileiro. A expectativa dos empresários do setor é que as vendas em datas importantes, como Black Friday e Natal, sejam melhores que as de edições passadas.
O consumo deve ser estimulado por uma combinação de fatores: juros em queda, inflação baixa e injeção de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS/Pasep – ao todo, serão R$ 42 bilhões liberados em 2019 e 2020, segundo o Ministério da Economia.
“A leitura (dos empresários) está mais otimista este ano. A liberação dos recursos do FGTS e do PIS/Pasep deve ajudar a turbinar o consumo” , afirma o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes.
A inflação baixa contribui para esse cenário porque evita que o poder de compra do brasileiro seja corroído. Nos 12 meses acumulado até setembro – último dado divulgado –, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 2,89%.
Os juros em queda também abrem espaço para estimular o consumo. A expectativa dos economistas é que a taxa básica de juros encerre o ano em 4,75%, e a Selic mais baixa ajuda a baratear o custo do crédito na ponta. “O nível da queda de juros ainda não se materializou para o consumidor, mas há expectativa de taxas de menores”, afirma Bentes.
Numa projeção ainda bastante preliminar, a CNC avalia que as vendas no Natal deste ano devem crescer 5% em relação a 2018. Resultado que, se confirmado, será o melhor desde 2013.
A expectativa de melhora também foi captada por um levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Numa pesquisa realizada com 1,1 mil varejistas, 58% acreditam que as vendas deste fim de ano vão crescer em comparação com 2018. E a alta média esperada por eles é de 17%.
“É um número bem animador, talvez não chegue a tudo isso. Mas mostra o otimismo do varejo e eles (os empresários) têm um ‘feeling’ bom. Então podemos esperar um Natal melhor”, diz a economista do SPC, Marcela Kawauti.
A economista lembra que o quarto trimestre tem um grande peso no balanço do varejo. No ano passado, as vendas do Natal chegaram a R$ 53,5 bilhões, segundo a entidade, enquanto as das demais datas comemorativas tradicionais (excluindo a Black Friday), somadas, foram de R$ 56 bilhões.
Apesar do otimismo em relação às vendas, os empresários estão cautelosos na hora de investir. Só 23% dos entrevistados pelo SPC já contrataram ou pretendem contratar funcionários para o fim do ano, sejam efetivos ou temporários. A expectativa é de que 103 mil vagas sejam abertas.
Encomendas crescem
Um indicador que ajuda a medir o apetite do varejo é o estoque da indústria: quanto mais encomendas as lojas fazem, menos produtos ficam parados nos fabricantes.
O índice de estoques medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) vinha subindo desde o início do ano, mas caiu em agosto (dado mais recente), passando de 52,8 para 51,7 pontos. “Dá para perceber, sim, um aumento da demanda”, diz Marcelo Azevedo, economista da CNI.
A entidade mede os estoques numa escala de zero a 100. Se o indicador ultrapassa os 50 pontos, é um indício de acúmulo de produtos em relação ao que foi planejado.
Azevedo pondera, porém, que o ajuste deve se intensificar até outubro, mais perto das datas comemorativas. “Com a crise, os empresários estão avessos ao risco e adiando o máximo possível para efetuar pedidos, com medo de se frustrar mais uma vez, errar na previsão e ficar com estoque encalhado”, afirma.
Embora os dados mostrem uma melhora de humor para o consumo, eles devem ser vistos com cautela. No início do ano, a expectativa dos analistas era que a economia brasileira teria um desempenho mais vigoroso. As projeções apontavam para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 2,5%, mas as estimativas mais recentes mostram que o avanço da atividade deve ser inferior a 1%.