Cristais de ácido tartárico substituem pedras preciosas
Por Giana Milani/ JC
Mais de seis décadas depois, é preciso discordar da personagem de Marilyn Monroe no clássico filme Os Homens preferem as loiras, que declarava que os diamantes são os melhores amigos de uma garota. A pedra, menina dos olhos de tradicionais marcas, como Cartier e Tiffany’s, vem encontrando curiosas concorrências. A Enojoias, de Bento Gonçalves, por exemplo, substitui gemas preciosas por cristais de vinho.
A empreendedora Patrícia Pedrotti, responsável pelo negócio, cursava design e desejava criar algo relacionado à uva. Filha de viticultor, ela cresceu em meio às vinhas do distrito de Tuiuty. Depois de uma década, veio o insight. “Vou desenvolver joias com os cristais de ácido tartárico, a chamada ‘gruppola’ aqui no Interior”, recorda.
No início, as peças foram elaboradas para uma exposição. Em seguida, a Cooperativa Vinícola Aurora, da qual a família Pedrotti faz parte, abraçou a ideia e solicitou que ela confeccionasse brincos em prata para as recepcionistas. No início de abril, a corte eleita da Fenavinho ganhou adornos assinados pelo atelier.
Apelidados por Patrícia de “diamantes do vinho”, os cristais são formados através da precipitação de ácido tartárico e potássio, presentes tanto nas uvas brancas quanto tintas. Quando na presença de baixa temperatura, esses elementos reagem entre si, formando o material.
A produção é dividida em etapas. O desenho, a modelagem 3D em Rhinoceros e a impressão 3D são próprios, já a parte da fundição de metal é terceirizada em Guaporé. “Os cristais são retirados das pipas durante a limpeza e entregues em diversos formatos, nas colorações vinho branco, vinho rose e vinho tinto”, explica. Patrícia finaliza o processo com o corte artesanal, conforme o protótipo. “Como os cristais são irregulares, nenhuma peça é igual a outra, tornando assim cada joia única”, destaca.
Os itens são feitos sob encomenda, mas alguns ficam expostos em vinícolas, contabilizando uma média de 15 joias vendidas por mês. “Fui questionada para aumentar a produção e ter mais pontos de venda, mas acredito que expandir muito sai do meu foco de produzir e acompanhar todo o processo”, pontua. A designer relata que vende para todo o Brasil e também para o exterior. “O público consumidor é formado, em sua maioria, por enólogos e enófilos”, conta. Além da Enojoias, Patrícia é sócia-proprietária da Blu 3D, uma empresa de design 3D, onde trabalha com o desenvolvimento de peças para terceiros, com foco comercial.