43% dos consumidores globais querem comprar de empresas que beneficiam a sociedade, mesmo que tenham que pagar a mais por isso
Por Elizandro Duarte*
O conceito de ética ambiental foi originalmente criado na década de 1960, mas, sem sombra de dúvidas, foi nos últimos 20 anos que a ideia abandonou o campo dos estudos acadêmicos e foi encontrar-se diretamente com a sociedade, impactando a vida das pessoas e gerando mudanças nos mais diversos setores de mercado.
De forma objetiva, a ética relacionada ao meio ambiente diz respeito às formas com que a humanidade age em seu meio social, e, especialmente, com relação à natureza. Práticas predatórias e abusivas, que até pouco tempo atrás eram toleradas, vem sendo cada vez mais questionadas.
No mercado de luxo, essa ideia encontrou uma forte aderência tanto por parte dos consumidores dos produtos e serviços de alto padrão quanto pelas empresas e marcas que atuam no setor. A partir do momento em que os clientes tomaram consciência de que suas ações impactam o presente e o futuro, ampliou-se a busca por empresas que tenham a preocupação ambiental. Esse cenário foi constatado pela pesquisa EY Future Consumer Index que revelou que 43% dos consumidores globais querem comprar de empresas que beneficiam a sociedade, mesmo a um custo mais alto.
Para as marcas de luxo, o desejo dos clientes promoveu uma readequação nas estratégias comerciais em busca de produtos que atendam às exigências do setor e, também, impactem o mínimo possível o ambiente. A coleção Gucci Off The Grid, lançada a alguns pela grife italiana, é um exemplo dessa tendência. Utilizando na produção das peças materiais reciclados, orgânicos e de origem sustentável, até mesmo a campanha publicitária foi concebida com o objetivo de valorizar a natureza e apontar que é possível o desenvolvimento sem impactos agressivos ao meio ambiente.
De acordo com um artigo recentemente publicado por Lucas Martins, diretor de ESG do LIDE/SC, “dificilmente uma empresa conseguirá crescer se não rever de modo autêntico a sua ética de negócios, sem redesenhar o modo como se relaciona com o ambiente e, principalmente, com as pessoas, re-humanizando o convívio e modos de trabalho complexos, seja com melhores condições de trabalho, seja reduzindo violações dos direitos humanos ou emissões de CO₂ e, ainda, como cuida de sua governança”.
Entretanto, é fundamental destacar que essa revisão de estratégia ou mesmo a adoção de práticas voltadas à diminuição do impacto ao meio ambiente, precisam ser verdadeiramente genuínas, ou seja, estar diretamente ligada aos valores que a organização defende. Uma das características primárias dos clientes do mercado de luxo é o seu elevado grau de informação, por isso, não adianta criar apenas uma ação ambiental e vender a empresa como organização sustentável. No segmento de luxo, a ética ambiental se tornou, sem sombra de dúvidas, um diferencial de mercado.
*Elizandro Duarte é jornalista, com especialização na área de empreendedorismo, MBA e mestrado no segmento turístico. É colunista do blog Terapia do Luxo.