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A febre das celebridades por crucifixos e outros ícones religiosos

A febre das celebridades por crucifixos e outros ícones religiosos

A febre das celebridades por crucifixos e outros ícones religiosos

Eles se transformam em joias cobiçadas por famosos. Se antes causavam polêmica, agora são símbolos de conexão espiritual

Por Simone Blanes

LIKE A VIRGIN - Madonna em 1984, na MTV: símbolo para chocar o público – Richard Corkery/NY Daily News Archive/Getty Images

Em 1984, quando começava a despontar na cena pop, Madonna decidiu que era hora de chocar o público. No Video Music Awards, premiação da MTV, nos Estados Unidos, ela saiu de um bolo enorme enquanto entoava um clássico instantâneo, Like a Virgin.

Para além da letra ousada e a performance provocativa, a polêmica veio do figurino: a nova estrela usava um vestido de noiva, adornado por dois elementos díspares: um cinto no qual se lia a inscrição boy toy (brinquedo de menino) e um imenso crucifixo, símbolo maior do cristianismo. Como Madonna havia previsto, o escândalo foi inevitável. A ruidosa aparição teve um efeito imediato na moda. As cruzes de origem religiosa se tornaram acessórios desejados, e logo cantores como Prince e George Michael passaram a usá-las em público. Quase quatro décadas depois, as chamadas joias de proteção — que incluem também figas, escapulários, olhos gregos e talismãs, entre outros adereços — estão de volta, mas de um jeito diferente.

FÉ - Hailey Bieber e Kim Kardashian: amuletos ligados à espiritualidade voltam a ganhar adeptas famosas – Reprodução/Instagram

Se a intenção no mundo pop antes era provocar, agora a tendência está conectada a questões de fé e espiritualidade. Recentemente, a eterna criadora de tendências Kim Kardashian pagou cerca de 200 000 dólares pela cruz Attallah, criada pela joalheria Garrard, em 1920. Cravejada de ametistas e diamantes, ela havia sido usada pela princesa Diana em 1987, em um evento de caridade. As celebridades, reafirme-se, aderiram em peso à tendência — do terço de Neymar nos campos de futebol aos brincos da modelo Hailey Bieber nas redes sociais, dos colares com motivos religiosos nos palcos onde se exibem cantoras e cantores como Beyoncé, Harry Styles e Rita Ora ao discreto crucifixo de Lourdes Maria Leon, filha de Madonna, no tapete vermelho do Grammy. Os looks inspirados em pingentes que pareceriam mais adequados nos colos de freiras e padres são como um comentário em torno de nosso tempo. “Em momentos como pós-guerra ou grandes epidemias, as pessoas sentem mais o desejo de proteção”, diz Bianca Zaramella, professora de comunicação de moda no Istituto Europeo di Design (IED).

HERANÇA - Lourdes Leon, filha de Madonna: acessório para seguir os passos e o figurino da mãe – Robyn Beck/AFP

As peças são onipresentes nas grandes joalherias. Fizeram fama as coleções de crucifixos da Tiffany, os talismãs da Cartier, os amuletos da Vivara, os diversos símbolos espirituais da Swarovski e as pedras místicas do designer Ara Vartanian, para citar apenas alguns exemplos. Vartanian diz que sempre pensa em joias como amuleto. Mas é preciso ter cautela para não ferir a fé das pessoas. “Deve haver respeito por símbolos de todos os tipos”, diz Frank Everett, vice-presidente da Sotheby’s Jewelry. Afinal, assim como os diamantes, as joias de proteção também podem ser eternas.

*Simone Blanes para Veja. Artigo publicado na edição nº 2830 de 1º de março de 2023

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