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Sustentabilidade na alta relojoaria: pulseiras recicladas

Sustentabilidade na alta relojoaria: pulseiras recicladas

Sustentabilidade na alta relojoaria: pulseiras recicladas

Diversas marcas estão apostando em materiais ecológicos; as inovações têm como foco as pulseiras

Por Yannick Nardin*

Quem se lembra dos relógios de plástico à base de milho da década de 1990? Durante um verão, esse modelo com as grandes orelhas pretas da Minnie causou sensação, apesar da baixa durabilidade. O sucesso não correspondeu às expectativas. Na época, a Swatch explicou que tinham explorado o material por uma perspectiva industrial e não ecológica. Hoje, a situação mudou significativamente. 

A Geração Z aprecia o luxo, mas também se preocupa com o destino do planeta. Paralelamente, as regulamentações estão mais rigorosas, com possíveis sanções para o greenwashing. Como resultado, as marcas de relógios estão explorando o mundo da responsabilidade social e ambiental. E com isso, as inovações têm contemplado desde a reciclagem de metal e plástico, bem como o uso de borra de café ou resíduos vegetais, para os elementos de um relógio, como as pulseiras que, na opinião dos especialistas, não têm impacto na totalidade do produto. 

Pulseiras: uma porta para a sustentabilidade

Precisão e confiabilidade, virtudes essenciais de um relógio mecânico de alta qualidade, tornam mais complicado o uso de novos materiais, como os reciclados. Entre as marcas que ousam enfrentar este desafio, a Panerai lançou o Submersível eLAB-IDTM, em 2021. Composto por 98,6% de materiais reciclados em peso (incluindo titânio, SuperLuminova e até silício), este relógio conceito resultou de investimentos significativos. “Tivemos que começar do zero, criar toda uma rede de fornecedores e desenvolver os materiais. Na segunda fase, quando for utilizado aço reciclado em todos os nossos relógios, podemos esperar um retorno do investimento”, explica o CEO da marca, Jean- Marc Pontroué. A Panerai, tal como a Chopard – pioneira no domínio do ouro responsável, planeja utilizar exclusivamente aço reciclado nos seus relógios (com um teor de 90 a 95% de aço reciclado, dependendo das respetivas ligas) até 2025.

Panerai Submersível QuarantaQuattro eSteel™ Verde Smeraldo. Foto: Divulgação Panerai.

Nesta busca desafiadora e custosa, a pulseira se presta mais facilmente à ousadia do que qualquer outro componente. Sem influência na funcionalidade do relógio, muitas vezes elas são projetadas para serem alteradas pelo consumidor para variar a aparência: os materiais “eco” oferecem mais criatividade. Da mesma forma, as caixas e embalagens dos relógios são cada vez mais adornadas com materiais reciclados, sendo o principal desafio manter a experiência de luxo esperada pelos clientes, tal como acontece com as pulseiras. Por exemplo, a Breitling desenvolveu embalagens que não são apenas inteiramente feitas de garrafas de plástico recicladas, mas também dobráveis, reduzindo a sua pegada de carbono durante o transporte. Como salienta Jean-Marc Pontroué, “o produto é apenas a ponta do iceberg. Toda a cadeia de produção é importante”.

No início do ano, a Chopard revelou sua intenção de usar Lucent Steel, aço reciclado, para produzir todos os seus relógios de aço até o final de 2023. Aqui, o modelo Alpine Eagle. Foto: Divulgação Chopard.

Plástico não é fantástico

Um dos flagelos diante do consumo excessivo é o plástico. De muito conveniente, transformou-se, com razão, em um inimigo público. Está invadindo o planeta na forma de resíduos e microplásticos. André Bernheim, presidente do Conselho de Administração da Mondaine, marca que procura alternativas sustentáveis ​​desde a década de 1990, explica que uma pulseira de plástico reciclado lançada em 2013 inicialmente gerou pouco interesse. “Isso mudou em 2016, quando lançamos um relógio feito de aço reciclado da locomotiva Gotthard. O público estava pronto.”

Agora, estão surgindo duas soluções para responder à nova consciência ecológica face à onda do plástico: prescindir ou reciclar. Como parceira de muitos relojoeiros, a Tide Ocean coleta PET dos oceanos e o transforma em grânulos “rPET Tide Ocean”. Este material de alta qualidade serve para diversas aplicações relojoeiras (como tecer pulseiras com fios ou criar compósitos altamente resistentes quando combinado com fibra de vidro, como visto nos relógios Maurice Lacroix). 

A Breitling também segue uma perspectiva semelhante com as suas pulseiras Econyl, feitas a partir de redes de pesca recuperadas dos mares e endossadas pelo Embaixador Kelly Slater.

Maurice Lacroix desenvolveu uma importante parceria com a #tide – que trabalha para coletar PET na Tailândia, mas também apoia programas educacionais em comunidades locais. Na foto, Maurice Lacroix AIKON #tide menta e rosa (Maurice Lacroix)

Café expresso no pulso

A reciclagem estende-se a muitos outros materiais, incluindo metais como aço, titânio e ouro, com desafios significativos em termos de qualidade para os primeiros e rastreabilidade para os últimos. Numerosas inovações de nicho também estão surgindo. A marca ID-Genève possui um ID-Lab onde co-desenvolve materiais sustentáveis ​​para fins relojoeiros. Esses esforços resultaram em embalagens feitas de cogumelos (compostáveis ​​industrialmente), algas (compostáveis ​​em seu jardim) e até mesmo uma pulseira feita de resíduos verdes dos parques de Londres. 

Continuando no ramo “alimentar”, a Swatch oferece embalagens feitas de fécula de batata e tapioca e desenvolveu um plástico de base biológica feito de óleo de mamona. Além disso, a Hublot lançou recentemente pulseiras de tecido ou borracha que contêm pequenas quantidades de borra de café Nespresso. Já o alumínio das cápsulas foi processado na caixa, moldura, coroa e botões

‘Big Bang Unico Nespresso Origin’, é o relógio que resulta de uma colaboração entre a Hublot e a Nespresso, limitado a 200 peças.

No domínio do aço reciclado de alta qualidade para a relojoaria (especificamente aço cirúrgico), uma revolução está a acontecer na região do Jura com a empresa Panatere. Previsto para 2025, um forno solar localizado no centro da produção de relógios limitará ainda mais o impacto ambiental deste metal, reduzindo as necessidades de transporte. A produção estimada de 100 toneladas de aço poderia cobrir uma parte significativa da produção anual de relógios suíços em aço, totalizando aproximadamente 6 a 10 milhões de relógios. Estas são excelentes perspectivas para o “novo ouro do Jura”, conforme descrito por um dos seus primeiros adeptos, Nicolas Freudiger, co-fundador da ID Genève, uma marca de relógios circulares de fabricação suíça.

ID Genève dispensa plástico e promove a circularidade. A marca utiliza aço reciclado produzido no Jura por Panatere (DR)

Embora as quantidades de relógios possam atingir milhões, seus volumes permanecem pequenos, sendo que essa indústria não está entre as mais poluentes. No entanto, tais iniciativas personificam a busca da exemplaridade no setor do luxo e trazem visibilidade às inovações. Como sublinha Rolf Studer, CEO da Oris, uma marca altamente empenhada na sustentabilidade: “O que importa é a mensagem aos consumidores: ‘Dê uma segunda vida aos objetos. Há pouco tempo, o luxo era sinônimo de consumo excessivo. Hoje, podemos promover a preservação ambiental e contribuir para a mudança de mentalidades.” E que melhor maneira de consumir do que consumir menos, mas escolher com sabedoria ?

* Yannick Nardin para Tribune of Luxury. Tradução: IBGM

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