Por Ilana Berenholc
Sen. Durbin: “Você se sentiria confortável em compartilhar conosco o nome do hotel onde você esteve ontem à noite?”
Mark Zuckerberg: “Uh … não.”
Sen. Durbin: “Se você enviou mensagens a alguém esta semana, você compartilharia conosco os nomes das pessoas com quem você trocou mensagens?”
Mark Zuckerberg: “Senador, não, eu não escolheria fazer isso publicamente aqui.”
Sen. Durbin: “Talvez seja isso, precisamente, sobre o que estamos falando: o seu direito à privacidade.”
(Depoimento de Mark Zuckerberg ao Senado americano sobre o caso Cambridge Analytica)
O que é Social Cooling?
O termo Social Cooling foi cunhado por Tijmen Schep, um crítico de tecnologia e designer de privacidade holandês. Ele se refere a ideia de que, por sentirem que estão sendo vigiadas, as pessoas mudam seu comportamento. Vivemos na época da “economia da reputação”, em que quantidades massivas de informações sobre nós são coletadas, registradas e comercializadas. É só lembrar que, recentemente, a China anunciou a implantação de seu plano de um “sistema de crédito social”. Por meio dele, o comportamento de cada um dos seus 1,3 bilhão de cidadãos receberá uma “nota social”, em uma espécie de ranking de confiança.
O que parecia distante – só existente em livros ou séries de TV – se torna realidade. O incômodo de nos sentirmos vigiados se torna mais intenso quando vem à tona um escândalo como o do Facebook e Cambridge Analytica. Sim, você está sendo vigiado.
Por medo da sua reputação digital limitar suas oportunidades, as pessoas não querem correr riscos, portanto, se autocensuram. Alguns dos efeitos negativos são:
Conformidade – Deixamos de clicar em certos links por medo de sermos rastreados.
Aversão ao risco – Os sistemas de classificação podem criar incentivos indesejados e aumentar a pressão para adequar-se a uma média burocrática.
Rigidez social – Nossas reputações digitais limitam nossa vontade de nos manifestar e protestar. Isso é uma forma de controle social. Nos tornamos mais “bem comportados”.
Social Cooling e a Marca Pessoal
“A ação humana, na medida em que está inserida na interação social, é sempre assombrada por uma relação instável ou ambivalente entre ser e aparentar, entre quem somos em particular e quem professamos publicamente ser.” – Gloria Origgi
O princípio fundamental da marca pessoal é que ela se baseia em identidade e autenticidade. Outro, é que deve haver coerência na expressão de quem você é em todos os meios: off-line e online. Isto é, quem sou e o que falo numa interação face a face é o mesmo nas redes. Mas, em um mundo onde a privacidade parece estar desaparecendo e onde os algoritmos “decidem” nosso valor, posso ser eu mesma? Se sei que recebo uma nota com base nas pessoas com quem me relaciono, causas que apoio, etc., vale a pena ser autêntica?
No personal branding, as decisões sobre nossa comunicação se baseiam no posicionamento que desejamos. E este tem como base nossa essência e atributos. Quando as pessoas começam a se sentir vigiadas, passam a se expressar de forma mais controlada e menos autêntica.
Essas questões trazem uma discussão importante. Se as pessoas começarem a se expressar somente para ter uma boa ficha, perde-se a essência da marca pessoal e de sua gestão. O parecer irá se sobrepor ao ser. Infelizmente.
Ilana Berenholc é consultora em Presença Executiva e Liderança e Pós graduada em Personal Branding pela Faculdade de Comunicação Blaquerna – Barcelona.