Coleções que podem ser usadas por todos os sexos são tendência na joalheria
Por Débora Rodrigues
A indústria de joias vive um momento importante. A escolha de joias ao longo dos anos se tornou menos ostensiva, mais orgânica e comportamental. Não se trata mais de se questionar se “essa peça foi feita para mim?”, mas “o que essa peça diz sobre mim?”. E no meio de mudanças, a tendência da moda unissex tornou-se evidente e chegou à joalheria.
Começou no vestuário, onde roupas sem gênero se tornaram comuns e são encontradas nas lojas de marcas de luxo e tradicionais. Agora há mais e mais pessoas comprando peças neutras de joalheria. “As mulheres estão usando mais coisas masculinas e os homens ficam mais confortáveis em usar joias”, disse Lorenz Bäumer, joalheiro parisiense que cria peças que refletem essa tendência.
Os valores centrais da marca JRS são unidade, igualdade, aceitação mútua e abraçar a singularidade e resume a tendência sem gênero com o slogan: “Você usa o que gosta”. À medida que essa intenção à aceitação de todos e à liberdade de expressão ganha força, as barreiras que antes restringiam os projetos de joalheria são derrubadas. “O uso de formas orgânicas e geométricas em minhas coleções é influenciado pela natureza ou símbolos poderosos, e é por isso que mais de 70% dos designs do JRS são considerados unissex e são tão atraentes para homens e mulheres”, disse Julien Riad Sahyoun, criador da marca.
A estilista Jelena Behrend garante que as joias podem mudar de traje e atitude, assim como o gênero. “Uma camiseta simples e um jeans preto são bem básicos”, ela disse, “mas com um brinco ou colar, um garoto pode parecer atual, ou com um bracelete enorme e um anel de dedo mindinho, uma garota tem um visual de menino”. Preferências quanto à cor, material e design também estão variando. As mulheres estão optando por mais acabamento fosco e textura, enquanto os homens preferem cada vez mais brilho e polimento, disse Behrend.
O desfoque de gênero levou alguns designers a repensar o processo criativo de suas joias. Luz Camino está reavaliando o que produz porque os homens usam broches esmaltados de flores ou estrelas. “Estou desenhando alguma coisa para a nova coleção e agora vou pensar naquela peça vendo que talvez seja boa para um homem usar também”.
A tendência traz desafios. “Temos que pensar em produzir mais tamanhos de anéis e ter estoque, já que você tem de fazer uma coleção sem gênero pensada para todos”, disse o joalheiro de Londres Stephen Webster.
Ele apresentou sua primeira coleção unissex, Thames, trazendo 15 peças com motivos que incluíam lâminas de barbear e uma forma que poderia ser uma estrela ou uma cruz. Outra questão é onde vender as peças unissex, já que os clientes têm de saber que encontrarão as joias em lojas que não sejam específicas de gênero.
Um estudo divulgado pela Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação, o A Ccelerating Acceptance, mostrou que a nova geração rejeita rótulos tradicionais de gênero, com 20%, com idade de 18 a 34 anos, identificando-se como líquida, bissexual ou pansexual e 12% identificando como transgênero ou gênero inconformista.
Marcas de luxo do universo joalheiro perceberam isso e já trabalham com peças que atendem os dois gêneros. Na Bulgari, Lucia Silvestri, diretora de criação, apresenta o anel B.Zero1, vendido tanto na linha masculina como na feminina. A Chopard também planeja adicionar peças maiores e mais pesadas à coleção Ice Cube dos anos 90 para oferecer uma opção aqueles com menos de 40 anos. E Giampiero Bodino, o joalheiro de Milão, está projetando sua primeira coleção sem gênero para apresentação no próximo outono.