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Joias sem gênero ganham espaço na Europa com designer brasileiro

Joias sem gênero ganham espaço na Europa com designer brasileiro

Joias sem gênero ganham espaço na Europa com designer brasileiro

Radicado em Londres, Alan Crocetti conquistou celebridades e passarelas com suas joias ‘genderless’, tendência na moda que ganhou força nesta década

Por Cibele Maciet

Pouco conhecido no Brasil, Alan Crocetti é um dos atuais queridinhos da cena fashion internacional. Suas campanhas são verdadeiros manifestos englobando todos os gêneros, nas quais homens, mulheres e “no gender” (identidade de gênero neutra), usam joias inusitadas, sexy e altamente desejáveis.

Alan foi um dos primeiros a mostrar que as joias podem ser usadas por todos os gêneros do planeta. E de um jeito para lá de sexy. Pingentes em forma de pênis, joias de nariz em formato de curativo: seu arsenal de peças é provocativo e ultra refinado.

Naturalmente, suas peças já foram parar nos red carpets em celebridades como Miley Cyrus, Rihanna, Sam Smith e Dua Lipa. Um sucesso sem precedentes para o designer de 36 anos que cresceu na região da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. “Minha infância foi incrível, meus pais sempre me deixaram explorar todos os meus interesses criativos, mesmo que esses as vezes durassem pouco”, conta Alan. “Mas foi importante para meu crescimento saber e ter tido essas oportunidades para reconhecer o que poderia me acrescentar e o que não era o meu caminho”, explica o designer, hoje baseado em Londres.

Moda que vem de berço

Acostumado desde cedo com a moda, Crocetti cresceu entre as máquinas de costura da malharia de seus pais. Mas uma armadilha do destino fez com que tivesse que batalhar sozinho pela sua independência financeira. “Infelizmente, a empresa deles faliu assim que comecei a estudar moda na capital mineira. O que me fez procurar trabalho para pagar minhas contas e sair do Brasil para buscar uma independência maior”, conta.

A escolha de Londres foi bem ponderada. “Como europeu, posso me mudar para países diferentes na Europa. Passei uns meses na Itália, explorei cidades como Milão, Paris e me decidi por Londres porque queria estudar na Central Saint Martins e por conta da diversidade, criatividade, a vibe da cidade”, diz o joalheiro. “Fiz quatro anos de curso e no meu projeto final desenvolvi acessórios e vestuário. Com isso, as joias que fiz para esse projeto foram ganhando espaço em editoriais e no mesmo ano comecei a ser chamado para fazer colaborações”, conta.

No ano seguinte, Crocetti foi chamado para apresentar sua primeira coleção na Fashion East, incubadora que ajuda novos designers durante a semana de moda de Londres, e não parou desde então. Sua primeira coleção foi comprada pelo badalado Dover Street Market de Londres, Nova Iorque e Tóquio.

“Assim comecei a conquistar meu espaço e criei a marca que é um espelho da minha pessoa. Eu aprecio tanto o equilíbrio quanto a instabilidade. Vivo de forças e fraquezas. Então, faz muito sentido retratar isso no meu trabalho, usando imagens de pessoas (não só modelos) que me marcam pelas suas histórias”, afirma o joalheiro, que se inspira, sobretudo, na arte e arquitetura. “Crescer em Belo Horizonte e viver imerso no mundo de Niemeyer me permitiu entender e valorizar as formas, áreas, perspectiva”, diz.

Fiel a si mesmo

“Desde o começo quis expressar minha voz e minhas ideias sem tê-las ‘manchadas’ pela visão criativa de outras pessoas. Então, dediquei meu tempo para me entender como designer e onde eu queria levar a minha marca”, pondera.
Durante esse processo de construção de sua label, foi convidado para contribuir com outras joalherias e marcas de moda, mas para aceitá-los, teria de abrir mão de sua marca para trabalhar exclusivamente para elas. “Declinei todas as ofertas e continuei trabalhando num restaurante para pagar minhas contas pessoais e da empresa, manter minha liberdade criativa, e construir um negócio”, conta.

Quanto à postura de “bad boy” da joalheria, ele descarta a imagem radical que sua marca pode passar. “Eu fundei a marca com o objetivo de passar a importância de enxergarmos e abraçarmos a individualidade como uma realidade orgânica, ao invés de um posicionamento radical”, afirma. “Claro que na vida e nos negócios eu faço parte de um sistema de normas sociais e culturais que categorizam e excluem as pessoas. Sendo assim, valorizar e exaltar a individualidade pode ser visto como um ato revolucionário”, conta.

Suas peças, feitas em prata esterlina e banhadas a ouro 18 quilates ou ródio, são confeccionadas em Porto, para onde o joalheiro se desloca frequentemente para acompanhar o processo de fabricação de suas coleções. As pedras, vindas de diferentes lugares do mundo, como Portugal, Brasil, Índia, Inglaterra se dividem em ametistas verdes e roxas, citrino amarelo, topázio azul, rubi de laboratório, cristais. Tanto o ouro quanto à prata são reciclados, tendência que ganha cada vez mais corpo na indústria da moda.
“Seja você mesmo e tenha orgulho de quem você é, essa é a minha mensagem. E vista o que você quiser vestir”, completa. “Não existe nada mais empoderador do que autoconhecimento e amor próprio. Para mim, sempre foi muito importante ter uma ‘armadura’ (é assim que eu vejo minhas joias) que permita e me ajude que eu esteja em contato comigo mesmo. Essa ‘armadura’ faz como que autoconhecimento e amor próprio sejam tangíveis”, resume o designer.

Projetos e parcerias

O universo “no gender” ganhou bastante espaço na moda e no comportamento dessa década. Mensagem clara entre os millennials, para quem essa realidade é constante. E Alan já entendeu essa diretiva há muito tempo. “As ideias ligadas ao movimento pós-gênero foram atribuídos aos meus produtos simplesmente porque eles permitem que cada consumidor os interprete de forma livre, sem restrições”, afirma.

“Gosto de mostrar as joias em corpos sem roupa pelo contexto de elas serem o primordial pra mim. Não quero que elas sejam vistas como meros acessório, como algo secundário”

No meio deste ano, o designer lançou uma coleção em parceria com um outro enfant terrible, mas dessa vez da moda: Jean-Paul Gaultier. Todos os símbolos gays do estilista estavam lá: o laço de bandana em forma de colar, piercing e pulseira, o famoso cache-teton, ou brinco de mamilo masculino (quem não lembra do bustiê de Madonna em forma de cone?).

Para completar os lançamentos deste ano, sua última coleção Outono/Inverno 2021 intitulada “Inferno” vem carregada de peças delicadas e preciosas. Na coleção, duas grandes inspirações: o elemento fogo e o grande escultor Aleijadinho. Sinal de mudança do joalheiro para uma fase mais purista? Quanto aos projetos para o futuro, uma de suas maiores vontades não deve demorar para acontecer. “Quero ver minhas criações no Brasil”, afirma.

 

*Cibele Malet em colaboração para CNN Paris

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