Nova biografia da ‘Rainha do Cangaço’ chegou às livrarias no último dia 31 revelando sua vaidade e fissura por ouro
Por Erica Mendes
Um mês depois do aniversário de 80 anos da chacina de Lampião e Maria Bonita, mais uma biografia da ‘rainha do Cangaço’ chega às livrarias: Maria Bonita – Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço. Dentre as diversas revelações que jornalista Adriana Negreiros faz em sua obra estão a vaidade e a fissura pelo ouro da primeira cangaceira da história do Brasil, que andava coberta com algumas das joias mais caras já vistas no sertão nordestino.
A baiana Maria Gomes de Oliveira (o nome Maria Bonita só lhe foi atribuído depois de sua morte) ingressou no movimento do banditismo social só em 1930, no grupo de seu marido Lampião, e perambulou pelas matas de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe, rompendo padrão sociais da época e abrindo caminho para que outras mulheres se juntassem ao grupo. Mas não admitia ser comparada ou confundida com bandidos comuns e julgava isso uma ofensa grave.
As pessoas do Cangaço se consideravam justiceiras e tinham orgulho de si mesmos por sua luta, já que para entrar no movimento era preciso ter um motivo digno, como se vingar de um crime e de injustiças sociais ou pessoais. Por isso, todas elas e, principalmente, o famoso casal Lampião e Maria Bonita, tinham grande preocupação com a imagem e, neste sentido, a ostentação e a vaidade eram características peculiares que os diferenciavam dos demais.
As vestimentas e os acessórios mostravam suas glórias através dos tecidos importados e das joias de ouro saqueados de suas vítimas. Maria Bonita usava vestidos e lenços de seda inglesa, luvas com motivos florais, lenços bordados, chapéus de couro enfeitados com moedas, botões e medalhas de ouro, meias e sandálias ou botas de cano curto. Nos dias em que perambulava no mato espinhento ela trocava a seda pelo pano resistente, calçava meias grossas e colocava perneiras de couro de bode ou veado. Mas tinha algo que era de uso comum para ambos os trajes: suas enormes joias, todas roubadas pelo marido.
Segundo a autora, “em volta do pescoço, exibia sete correntes de ouro. As mãos traziam anéis em quase todos os dedos. Reluzentes brincos de ouro faziam conjunto com um broche do mesmo metal, fixado ao tecido da vestimenta – ou à jabiraca, o lenço de seda usado junto aos colares”.
A vaidade de Maria não era externada apenas por suas joias pessoais. Objetos usados nas rebeliões também eram confeccionados de materiais nobres, como o seu punhal de prata e marfim, adornado com a pedra ônix. A ‘primeira-dama’ do Cangaço também carregava maquiagem, sabonete e o perfume francês Fleurs d’Amour, da marca francesa Roger & Gallet.
Quem ficou com as joias de Maria Bonita?
Maria Bonita e Lampião foram vítimas da rapina dos policiais quando eles os atacaram junto com mais nove cangaceiros em 28 de julho de 1938 na Grota de Angicos (Poço Redondo – SE). Qualquer objeto de valor era disputado, principalmente os bornais (a bolsa dos sertanejos) onde estavam dinheiro e joias. Na pressa, dedos e mãos eram cortados por causa dos pesados anéis. Estima-se que Lampião tinha consigo cinco quilos de ouro, mil contos de réis e 20 libras esterlinas.
Parte das joias que restaram foram identificadas como pertencentes à baronesa Joana Torres. Segundo o historiador Rubens Antônio da Silva Filho, autor do blog Cangaço na Bahia, “algumas destas joias foram levadas pelo comandante João Bezerra (autor da morte dos cangaceiros) e doados à esposa de Getúlio Vargas. Dentre estas estavam um relógio, um trancelim e uma pulseira, todos em ouros”.
De onde vinha o ouro dos cangaceiros?
Segundo o historiador e escritor João der Sousa Lima, “a maioria do ouro era fruto de pilhagens, porém existiam ourives que vendiam peças aos diversos bandos. O próprio Pedro de Cândido, coiteiro que não foi o principal responsável mais que esteve envolvido na trama da traição que resultou na morte de Lampião e Maria Bonita, era um dos ourives que vendia objetos do nobre metal aos cangaceiros”. Além disso, um dos saques que trouxe verdadeira fortuna ao bando de Lampião foi o famoso ataque a baronesa Joana Torres, realizado em 1922, na cidade alagoana de Água Branca.