Tecnologia pode encurtar o ciclo, ajudando o comércio a adaptar o bruto ao que o consumidor deseja
Débora Rodrigues
Como o aumento da automação de manufatura afetará a cadeia de suprimentos do setor joalheiro? Essa foi uma das principais discussões ocorridas durante o evento Dubai Diamond Conference, que girou em torno do tema “Disruption in Diamonds”.
Um dos principais pontos é que entender o quanto esse processo pode impactar trabalhadores empregados na fabricação de diamantes e em quanto tempo chegaremos à autonomia completa nessa área.
Acredita-se que em pouco tempo, caminhões autônomos serão capazes de levar seu transporte de minério para a planta de processamento, onde os diamantes em bruto serão separados dos resíduos e dispostos em suas formas brutas em tamanhos diferentes antes de serem enviados para mais agregação.
Os produtos serão alimentados em máquinas que determinam seu potencial de cor e clareza e, ao mesmo tempo, avaliam onde a pedra se encaixa melhor entre as muitas opções de sortimento. Os diamantes serão lapidados com base no mecanismo de planejamento de um computador da empresa, que analisará como obter o melhor rendimento polido.
A partir daí, as pedras seguirão para o departamento de polimento, onde as máquinas usam inteligência artificial (IA) para realizar o processo de corte e polimento. O diamante resultante receberá uma classificação através de sistemas automatizados que cobrem os quatro Cs. Em seguida, ele será enviado para o joalheiro ou consumidor final e todas as suas informações são carregadas em um programa de rastreabilidade baseado em blockchain ou em nuvem.
Bernold Richerzhagen, fundador e CEO da Synova, que lançou o DaVinci – um sistema automatizado de corte e modelagem de diamante, presente ao painel, disse que isso tudo é questão de tempo para acontecer. Hoje, para um diamante bruto chegar ao mercado leva cerca de um ano e a tecnologia pode encurtar o ciclo, ajudando o comércio a adaptar o bruto ao que o consumidor deseja.
Acelerar o processo de fabricação é uma oportunidade que a De Beers reconheceu ao desenvolver sua estratégia de inovação. Procurando maneiras de tornar o pipeline mais eficiente, a empresa descobriu que o maior gargalo entre mineradora e consumidor estava no corte e polimento. Isso levou a empresa a adquirir uma participação de 33,4% na Synova, uma vez que a tecnologia de microjet da empresa suíça tinha a melhor chance de ser adotada pelo setor como uma solução de longo prazo.
A Synova não é a primeira empresa a anunciar uma ferramenta que automatiza o polimento. O Centro de Pesquisa Científica e Técnica de Diamantes, com sede em Antuérpia, apresentou o Fenix, tecnologia que segundo os pesquisadores poderia acelerar o processo de fabricação de 10 a 20 vezes.
Tudo isso tem implicações para a força de trabalho de manufatura. No passado, a De Beers implantou caminhões sem motorista para certas partes do processo de produção de mineração. Hoje, a empresa está olhando para máquinas autônomas de carregamento, transporte e perfuração que tomam decisões sem intervenção humana. O resultado, de acordo com a companhia, é um processo mais seguro e eficiente, e que permite à indústria contar uma história melhor.
Ao mesmo tempo, a De Beers se envolveu com comunidades e governos para encontrar empregos alternativos e de valor agregado para os trabalhadores afetados por esses novos sistemas, o que nem sempre era possível.