O momento pós-covid trouxe e ainda traz grandes reflexões sobre a vida, saúde e bem-estar, que se tornaram prioridades
Por Renata Rivetti*
Recentemente, o Ministério do Trabalho divulgou um relatório que aponta que os brasileiros estão diminuindo o tempo de permanência no trabalho e praticando o job hopping, que, em tradução livre, significa “um salto de emprego”. Os dados indicam que a média de tempo que um colaborador fica no emprego não chega a dois anos.
Segundo o estudo, a maior incidência dos casos acontece entre os profissionais de 18 a 24 anos, que chegam a trabalhar por nove meses em uma empresa e, após esse período, decidem buscar novas oportunidades. Os mais velhos, com faixa etária de 65 anos, têm uma permanência maior, de até nove anos.
Gostaria de destacar que embora pareça algo ruim, a prática, conhecida como job hopping, vai ao encontro das mudanças que estão acontecendo no mundo, onde as novas gerações estão repensando suas carreiras, buscando um trabalho que faça mais sentido, gere mais satisfação e traga significado para o propósito de vida da qual querem desempenhar.
Sem dúvidas, essa mudança faz parte do que chamamos de busca pela felicidade corporativa, que consiste em trabalhar com o que nos desafia, nos traz senso de satisfação e realização, conquista de boas relações, um ambiente com segurança psicológica, nos sentirmos reconhecidos e valorizados, termos mais qualidade de vida e flexibilidade, conexão e senso de comunidade.
O momento pós-covid trouxe e ainda traz grandes reflexões sobre a vida, saúde e bem-estar, que se tornaram prioridades. De fato, se vamos trabalhar mais de 100 mil horas durante a nossa vida, precisamos desempenhar nossas funções com mais felicidade e acima de tudo, de forma saudável. E, para que as empresas se adaptem a essa nova realidade e não percam talentos, é preciso que entendam esse conflito geracional, em que a juventude não enxerga mais o trabalho como um fardo, uma obrigação para pagar contas, mas sim como uma realização para a vida.
Na prática, é importante que as empresas construam um ambiente mentalmente saudável, longe da toxicidade, para que assim os colaboradores se sintam representados, reconhecidos e valorizados. Os jovens estão sendo um exemplo que não podemos nos acomodar, eles estão em busca do significado na carreira, da realização dos sonhos. Por isso, mudam de emprego, de profissão, mas não deixam de lado a ideia de que é preciso ser feliz.
O momento é agora. Não dá mais para esperar
Outro ponto importante é que o conflito geracional faz mais um sinal de alerta para outra iniciativa que precisa ser aplicada nas empresas: o cuidado com a saúde mental e bem-estar dos colaboradores.
Segundo pesquisa da McKinsey com 15 mil funcionários de 15 países, 59% passaram ou estão passando por um desafio de saúde mental. E a pesquisa aponta que funcionários que estão enfrentando desafios na saúde mental tem 4 vezes maior chance de saírem da empresa e 2 vezes maior chance de estarem desengajados em seus trabalhos.
Além disso, anualmente, são gastos milhões de dólares em programas de bem-estar nas empresas e o problema da saúde mental continua crescendo de forma significativa. Esta afirmação pode ser confirmada com um estudo da Mental Health Foundation, que revelou que, atualmente, cerca de 13% das licenças médicas são por saúde mental, com destaque para o burnout. E o número de pessoas adoecidas deve ser maior, pois ainda há aqueles que preferem nem tratar por medo e continuam trabalhando até seu esgotamento.
O grande desafio é atuar no que está causando o burnout e não somente atuar nos sintomas. Infelizmente, a maioria das organizações têm realizado investimentos em benefícios e programas de bem-estar que não vão mudar o grande problema que está acontecendo, que segundo a pesquisa da McKinsey, para 70% dos respondentes, a principal causa do burnout é o ambiente tóxico. Ou seja, não adianta oferecer uma aula de mindfulness ou terapia se a comunicação não é transparente, se não há segurança psicológica, se não há reconhecimento e valorização, se há comando e controle, se o ambiente é competitivo e os líderes pouco empáticos.
Infelizmente, muitas empresas não entenderam ainda que felicidade corporativa não é oferecer benefícios superficiais ou programas de bem-estar. Tudo isso é interessante, são fatores higiênicos, que as pessoas reclamam se não tiverem, mas é preciso ir além disso.
*Renata Rivetti é especialista em felicidade corporativa e diretora da Reconnect Happiness at Work. Artigo para Mundo RH.