Pago com ouro falso pela Igreja, o artista dilacerou a própria obra em protesto
Por Noelle Marques
A Igreja Nossa Senhora do Carmo, localizada no centro histórico de Ouro Preto, Minas Gerais, é mais um belo exemplo da arquitetura no estilo rococó. Construída no século 18, o local foi projetado pelo mestre-arquiteto português Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho, que também participou de sua ornamentação junto com o mestre Manoel da Costa Ataíde.
O que a diferencia de todas as outras igrejas de Minas Gerais, além de ser a única do estado com painéis de azulejos portugueses na capela-mor, é o fato de ter em sua fachada e ao redor da porta três anjos com as asas cortadas.
A igreja teve sua frente terminada no ano de 1773 e contou com grande participação de Aleijadinho, responsável por esses anjos. Mas essas esculturas dilaceradas se devem a um fato não muito nobre – e pouco divulgado.
Segundo o guia turístico Geraldo Magela Tomáz, as asas dos anjos foram cortadas em forma de protesto, depois que Aleijadinho descobriu que foi pago pelo serviço prestado à Igreja com pirita, o “ouro de tolo”.
A pirita é um mineral que apresenta grandes semelhanças com o ouro: é pesada, possui a mesma cor e o mesmo brilho. Entretanto, ela pode ser diferenciada por não conduzir corrente elétrica e por ser dura e quebradiça – isto é, se receber impacto, vai se quebrar e formar estruturas menores com faces planas.
Revoltado, o artista então voltou ao lugar, junto com seus aprendizes, e deixou outra marca para a história.