Estudo da KPMG, em parceria com a Fundação Dom Cabral, traz um panorama das práticas de governança e perspectivas das empresas familiares brasileiras
Por Erica Mendes
Gerir uma empresa de qualquer porte no atual cenário político-econômico brasileiro é um grande desafio que exige muito profissionalismo. No caso das empresas familiares ainda se somam algumas particularidades como, por exemplo, as questões ligadas à sucessão. A terceira edição do estudo Retratos de Família, realizado pela KPMG Brasil, em parceria com a Fundação Dom Cabral, traz um panorama das práticas de governança e perspectivas para os próximos anos baseado na visão de 217 empresas familiares brasileiras, de 19 estados, atuantes em diversos setores, que participaram da pesquisa.
Governança
Para a KPMG alguns pontos são indispensáveis para garantir a solidez, a credibilidade e a maturidade da empresa familiar, considerando, é claro, que todos os membros tenham os interesses nos negócios alinhados e acima de eventuais interesses pessoais dos familiares. Porém, apesar dos respondentes considerarem muito importantes as boas práticas de governança corporativa (85%); a harmonia e comunicação entre as gerações da família (85%); o nível de preparação e capacidade dos sucessores (82%); o equilíbrio entre as necessidades da família e de investimentos nos negócios (69%) e a diversidade no Conselho; a gestão atual apresenta alguns fatores críticos que deixam muito a desejar. No âmbito da governança familiar há a ausência do chamado ‘acordo de acionistas’ (44%), do planejamento sucessório (54%) e do Conselho de Família (55%). Do ponto de vista do compliance, há a ausência do código de ética (36%), do canal de denúncias (54%) e da auditoria interna (58%). E, em relação aos sistemas de gestão, tem a ausência de um plano estratégico (49%).
Sucessão
Sobre as características valorizadas para a escolha do sucessor, as mais citadas são: conhecimento do negócio e da empresa (56%), comprometimento demonstrado com o sucesso do negócio (50%) e capacidade de negociação e articulação entre a empresa e a família (42%).
As empresas familiares que estão investindo na formação dos seus sucessores optam por colocá-los na empresa para trabalhar desde jovem (41%), por oferecer educação em escolas de 1ª linha no Brasil e por investir em coaching com especialistas (30%).
Em paralelo, chama a atenção o alto índice de respondentes que desconhecem o interesse da próxima geração em atuar na empresa (30%), demonstrando uma ausência de comunicação entre as gerações e também um problema futuro de perenidade da organização.
Principais Preocupações
Dentre as preocupações mais relevantes para as empresas familiares estão a incerteza política e econômica (61%), a redução na lucratividade (48%), a redução das vendas (29%) e a disputa por talentos/retenção e desenvolvimento de pessoas (26%).
Mudanças benéficas ao negócio
Sobre as mudanças que mais beneficiariam o negócio estão a redução de impostos (18%), a simplificação de leis trabalhistas (17%) e a legislação fiscal mais simples (14%). No entanto, as empresas familiares respondentes passaram a esperar menos da atuação do governo em relação a esses três itens e ampliaram o foco na redução dos gastos administrativos e desenvolvimento da educação, que estão dentro do seu alcance de atuação.
Fontes de financiamento
Os empréstimos e os financiamentos bancários permanecem na liderança, porém perderam espaço para investimentos dos proprietários. Isso pode configurar uma resposta aos financiamentos mais onerosos e crédito mais restritivo e seletivo no último ano – ou ainda uma demonstração de que a família empresária está evitando o endividamento, levando ao maior uso do capital próprio.
As principais finalidades da captação de recursos são para capital de giro (37%) – que é ruim para os negócios, pois não é uma renda que se sustenta a longo prazo -, investimentos em expansão dos negócios atuais (31%) e em novos projetos (24%).
Futuro
Os respondentes estão otimistas em relação à situação econômica de suas empresas nos próximos três anos: 70% estão confiantes, 23% neutros e somente 7% pessimistas em relação ao futuro.
Apesar de toda essa confiança, 34% dos respondentes apontaram que dois grandes receios são a inovação e a disrupção tecnológica, sendo esses mais dois importantes pontos de atenção do estudo, visto que ambos os temas ainda não estão na agenda atual do empresariado. A dúvida é se a empresa familiar saberá quando esse futuro chegar e se atuará a tempo de concorrer com as demais empresas no mercado.
A integra da pesquisa ‘Retratos de Família’ está disponível aqui.