A maestria com que Fabergé usou o esmalte, sem nem uma fissura ou bolha, intriga todos os joalheiros que examinam o objeto, já que o esmalte parece flutuar no ar
Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
A Casa Fabergé era perita em várias técnicas: do lapidar das pedras preciosas ao delicado esmaltado sobre ouro em cores diferentes como amarelo, branco, verde e vermelho. Criaram também tons inusitados para cores como laranja e cinza, pouco usadas em joalheria.
Fabricaram os mais variados objetos, inclusive os considerados banais: canetas, facas para cortar papel, sinetas, porta-blocos, relógios de mesa, pequenas molduras. Também, o que fascinava especialmente as mulheres, pequenos enfeites para suas mesas, como flores e castiçais.
Mas de todos os objetos de arte produzidos pela Casa Fabergé, não há dúvida que os Ovos de Páscoa são os mais famosos e os mais cobiçados. Não somente pela beleza e luxo, mas especialmente pela criatividade do grande artista russo, natural de São Petersburgo.
Depois da morte do czar Alexandre III, seu filho Nicolau casou-se com a princesa Alix de Hesse que tornou-se a czarina Alexandra da Russia depois que seu marido foi coroado Nicolau II. Ao saber que Alexandra sentia falta dos jardins da sua Alemanha natal, onde as rosas amarelas oriundas da China cresciam lindas e douradas, o joalheiro Fabergé criou para o czar Nicolau II oferecer à sua mulher, em sua primeira Páscoa em solo russo (1895), o ovo chamado Botão de Rosa
Em esmalte vermelho, no estilo neo-clássico, o Botão de Rosa é decorado com flechas de Cupido que evocam o amor do imperador pela imperatriz. A “surpresa” é justamente o botão de rosa amarela que, ao ser aberto para interpretar seu desabrochar, mostrava as duas surpresas menores que guardava em seu interior: uma miniatura da coroa imperial e um cordão com um rubi como pingente. Infelizmente, as pequenas surpresas desapareceram para sempre após 1917.
Já o ovo conhecido como Trevos está entre os mais belos e delicados. Foi oferecido por Nicolau II à czarina em 1902. Unidos uns aos outros por delicada camada de esmalte transparente, técnica inteiramente nova naquela época, os trevos formam uma curiosa trama de caules e folhas. A peça mede 9.8 cm de altura.
A maestria com que Fabergé usou o esmalte, sem nem uma fissura ou bolha, intriga todos os joalheiros que examinam o objeto, já que o esmalte parece flutuar no ar, sem apoio algum em determinados momentos. De quando em quando, vê-se uma fita fina de ouro, esmaltada em vermelho e semeada por pequenos rubis. A ‘surpresa’ era um pequeno broche em forma de trevo de quatro folhas, cravejado de brilhantes. Também desaparecido…
Trevos é considerado como a perfeição em ourivesaria. A verdadeira obra-prima de Peter Carl Fabergé, o artista nascido em São Petersburgo no dia 30 de maio de 1846 e falecido em Pully, Suiça, em 24 de setembro de 1920.
Fonte: O Globo