Modelagem feita por supercomputadores revela a dinâmica por trás do aparecimento de diamantes na superfície da Terra
Por Flavia Correia
Um artigo publicado na segunda-feira (8) no periódico científico Nature Geoscience descreve como gigantescos “pilares de calor” canalizam diamantes das profundezas da Terra para a superfície – descoberta possível graças à tecnologia.
De acordo com os autores do estudo, Ömer Bodur e Nicolas Flament, pesquisadores da Universidade de Wollongong (Austrália), a maioria dos diamantes é formada no magma presente no interior da Terra – bem abaixo da crosta – e trazida para a superfície por meio de erupções vulcânicas de um tipo de rocha chamada kimberlito.
Centenas dessas erupções que ocorreram nos últimos 200 milhões de anos foram descobertas em todo o mundo. A maioria delas no Canadá (178 casos), África do Sul (158), Angola (71) e Brasil (70).
Entre a crosta sólida da Terra e o núcleo fica o manto, uma espessa camada de rocha quente levemente viscosa. Durante décadas, os geofísicos usaram computadores para estudar como o manto flui lentamente ao longo do tempo.
Décadas de estudos para entender a dinâmica dos diamantes
Na década de 1980, um estudo mostrou que as erupções de kimberlito podem estar ligadas a pequenas plumas térmicas no manto – jatos que sobem devido à sua maior flutuabilidade – abaixo de continentes que se movem lentamente.
Já se argumentava, na década anterior, que essas plumas poderiam se originar do limite entre o manto e o núcleo, a uma profundidade de 2.900 km.
Então, em 2010, cientistas propuseram que as erupções de kimberlito poderiam ser explicadas por plumas térmicas surgindo das bordas de duas bolhas profundas e quentes ancoradas sob a África e o Oceano Pacífico.
“No ano passado, descobrimos que essas bolhas ancoradas são mais móveis do que pensávamos”, relatam os autores do novo estudo. “No entanto, ainda não sabíamos exatamente como a atividade nas profundezas do manto estava impulsionando as erupções de kimberlito. Ainda restava uma grande questão: como o calor era transportado das profundezas da Terra até os kimberlitos?”.
Para resolver essa questão, Bodur e Flament usaram supercomputadores em Canberra, capital australiana, para criar modelos geodinâmicos tridimensionais do manto da Terra.
Eles calcularam os movimentos de calor a partir do núcleo para cima e identificaram que ressurgências largas do manto, ou “pilares de calor”, conectam a camada mais profunda da Terra à superfície.
“Máquina do tempo” volta um bilhão de anos
“Nossa modelagem mostra que esses pilares fornecem calor sob os kimberlitos e explicam a maioria das erupções de kimberlito nos últimos 200 milhões de anos”, afirmam os pesquisadores.
O modelo capturou com sucesso erupções de kimberlito na África, Brasil, Rússia e parcialmente nos Estados Unidos e Canadá. “Nossos modelos também preveem erupções de kimberlito não descobertas anteriormente ocorridas na Antártida Oriental e no Cráton Yilgarn da Austrália Ocidental”.
Em direção ao centro dos pilares, as plumas do manto sobem muito mais rápido e carregam material denso através do manto, o que pode explicar as diferenças químicas entre os kimberlitos em diferentes continentes.
Até agora, foram analisados kimberlitos de até um bilhão de anos atrás, que é o limite atual de reconstruções de movimentos de placas tectônicas.
*Flavia Correia para Olhar Digital