Registrar a “estética do trabalho” está cada vez mais comum na rotina de muitos brasileiros
Por Layane Serrano*
Com muitas empresas estimulando o retorno ao trabalho presencial, o conceito de ‘Trabalho Estético’ ou ‘Work Aesthetic’ ganhou popularidade, especialmente entre a Geração Z, que entrou no mercado de trabalho durante a pandemia.
“O ‘trabalho aesthetic’ é uma tendência na qual o status corporativo se torna um estilo de vida. Não significa se tornar um workaholic, mas compartilhar o dia a dia corporativo nas redes sociais, com posts caprichados dos looks do dia, desafios da semana, pessoas, ambientes e produtos que integram as rotinas de trabalho”, afirma Lucas Fraga, professor da ESPM e head de estratégia da BALT, um hub de pesquisa de mercado e comportamento.
O termo surgiu como uma tendência no TikTok e outras plataformas de mídia social, e por isso é uma maneira do trabalhador se tornar, ao mesmo tempo, um “influenciador do trabalho”, o que ajuda a tornar o dia a dia mais agradável e visualmente atraente.
Apesar da origem nas redes sociais, o termo “aesthetic” traz uma referência ao termo cunhado pelo Gilles Lipovetsky, renomado filósofo e sociólogo francês contemporâneo, reconhecido por suas análises sobre a sociedade pós-moderna, do consumo e da cultura.
“Em suas obras, o filósofo fala sobre como a estética se tornou central no cotidiano e no comportamento do consumidor, fenômeno que ele denomina ‘estetização do mundo’. De acordo com Lipovetsky, a estética não se limita mais às artes tradicionais, permeando todas as esferas da vida, desde a moda até a publicidade”, afirma Joaquim Santini, pesquisador internacional de comportamento, com passagem por universidades como Harvard, nos EUA, e INSEAD, na França.
A publicidade humana gera a empresarial
Além de aumentar as chances de ser bem-visto pelo empregador, alguns “influencers de trabalho” acabam contratados pelas próprias empresas, em projetos de atração e retenção de jovens profissionais. “Se tudo mais falhar, esses profissionais terão acumulado seguidores, o que poderá se converter em negócios futuros no digital”, diz Fraga, que também é professor universitário da ESPM-SP.
As marcas também podem ter ganhos com essa tendência de trabalho. Inspirada na moda dos escritórios dos anos de 1990, a tendência “Office Siren Girl” já conta com 5 milhões de visualizações no TikTok e uma de suas variações, #officesirenmakeup, já possui mais de 2 mil posts com a hashtag.
“Marcas como Miu Miu já produzem coleções com foco no ‘trabalho aesthetic’, voltadas, sobretudo, ao público feminino. Além de prometerem tornar os dias de trabalho menos enfadonhos, essas marcas celebram o empoderamento feminino”, afirma Fraga.
Maysa Carnielli de Alcântara Costa, 28 anos, é analista administrativa da Natura&Co, e é um exemplo de funcionária que trabalha bem a imagem da sua rotina de trabalho no TikTok.
“Comecei a fazer este tipo de conteúdo no começo deste ano. Eu sempre amei ver os vídeos de rotina corporativa no tiktok, principalmente para matar a curiosidade de como eram os outros escritórios (risos) e com isso comecei a criar esse tipo conteúdo para mostrar como é o meu local de trabalho e assim matar a curiosidade de algumas pessoas”, diz a analista que só em um dos vídeos já teve mais de 75 mil curtidas.
@maycarnielli um dia trabalhando comigo em uma multinacional ⌨️☕️👜 #avon #natura #naturaeco #industriacosmetica #fyp #fy #lifestyle #multinacional #escriotorio #office #officelife #rotina #rotinanoescritorio #daily #dailyvlog #vlog ♬ som original – Maysa Carnielli
Quero ver o seu escritório
A curiosidade de conhecer o estilo dos escritórios antes e agora é algo comum na Geração Z que está começando a ter mais contato com o espaço corporativo após a pandemia, afirma Fraga, da Balt.
“É interessante ver a curiosidade dessa nova geração com séries antigas, como o ‘The Office’, uma série dos anos 2.000 que fala sobre uma empresa de papel, um ambiente bem burocrático, com funcionários usando terno e imprimindo relatórios” diz. “É interessante ver que os alunos ficam impressionados sobre como era o trabalho antes e como é agora com as novas tecnologias.”
Apesar de parecer influencers da marca, Fraga reforça que os funcionários que praticam o “Work Aesthetic” tem um trabalho um pouco diferente. “Essas pessoas são trabalhadores comuns. É um pouco menos sobre a empresa que eles trabalham e mais sobre eles”.
A tendência do trabalho estético, segundo o pesquisador internacional Santini, se popularizou devido a uma combinação de fatores, incluindo a mudança de mentalidade no mundo corporativo, a disseminação das mídias sociais e a busca por ambientes de trabalho mais inspiradores e produtivos.
“Esse conceito continua a evoluir e se adaptar às tendências e necessidades atuais, à medida que mais empresas reconhecem seu valor na criação de espaços de trabalho agradáveis e motivadores para o seu time”.
*Layane Serrano para Exame