FENINJER+

Em crescimento, mercado de joalheria masculina fina no país se inspira em Ayrton Senna e Cristo

Em crescimento, mercado de joalheria masculina fina no país se inspira em Ayrton Senna e Cristo

Em crescimento, mercado de joalheria masculina fina no país se inspira em Ayrton Senna e Cristo

No ano passado, setor movimentou US$ 7,3 bilhões e teve 7,3% de incremento ano a ano, ante 4,6% do mercado feminino

A Sotheby’s promoveu ano passado o primeiro leilão de joias masculinas com a mostra “For the Boys” — Foto: Divulgação

Este trecho é parte de conteúdo que pode ser compartilhado utilizando o link https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2024/06/27/em-crescimento-mercado-de-joalheria-masculina-fina-no-pais-se-inspira-em-ayrton-senna-e-cristo.ghtml ou as ferramentas oferecidas na página. Textos, fotos, artes e vídeos do Valor estão protegidos pela legislação brasileira sobre direito autoral. Não reproduza o conteúdo do jornal em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do Valor (falecom@valor.com.br). Essas regras têm como objetivo proteger o investimento que o Valor faz na qualidade de seu jornalismo.

Um brilho diferente vestiu a ala masculina na última temporada de premiações do cinema. Ele percorreu o tapete bege do Met Gala, no início de maio, e ainda teve força para, mesmo à luz do dia, refletir os flashes do Festival de Cannes no fim daquele mês.

Bases de ouro, platina e diamantes não eram exatamente rechaçados por eles, mas poucas vezes tantos homens públicos escalaram juntos os degraus da extravagância com colares, anéis, pulseiras e, para a surpresa de quem não esperava ver nada muito além do smoking de sempre, broches, ora presos às lapelas, ora alfinetados aos botões dos trajes monocromáticos.

Não é tendência restrita à juventude fashionista frequentadora do Oscar, como poderia sugerir o lançamento da colaboração entre a grife Cartier e o ator americano Timothée Chalamet, de 28 anos, em fevereiro, para a ocasião da estreia de “Duna – Parte 2”, protagonizado por ele.

Joias masculinas

O colar de partes giratórias forradas com diamantes em tons sépia, tal qual o deserto do planeta fictício Arrakis do longa, antecedeu o anúncio, no mês passado, da coleção Titan, criada pelo músico e diretor criativo de moda masculina da Louis Vuitton, Pharrell Williams, para outro titã da joalheria, a americana Tiffany & Co.

Suas 19 peças de inspiração punk foram desenhadas a partir da forma do tridente usado pelo deus mitológico das águas, Poseidon.

Correntes e espinhos entrelaçam diamantes distribuídos de forma pontual nas criações, num balanço de pesos ainda raro de se ver nas vitrines das casas de joias — ao menos, à luz do que um dia fora comum um homem trajar.

É que entre setembro e outubro passados, para o primeiro leilão dedicado a esse tipo de acessório em sua história, a firma inglesa Sotheby’s exibiu a mostra “For the Boys” (para os garotos).

Os itens do início do século XX e das últimas décadas da segunda revolução industrial provam a versatilidade dos ornamentos em detrimento de uma certa sobriedade difundida após os anos 1990, também alvo da curadoria de quase 100 itens do leilão.

Entre os lotes, destacou-se um anel de esmeralda e braceletes de David Yurman, um dos poucos designers cuja ourivesaria foca o público masculino; peças em formato de coruja e folhagens; uma versão do colar Serpenti da italiana Bulgari; e o broche Sunburst, da Tiffany & Co., em formato de Sol e datado de 1890.

A restrição persistente no estojo de joias masculinas no século passado seria fruto dos preconceitos gerados por um arquétipo de masculinidade que o diretor de imagem e herança da Cartier, Pierre Rainero, definiu ao Valor como “terrível”.

Em entrevista recente, ele disse que a ideia do mercado de só vincular a imagem do homem à força física “restringiu terrivelmente as opções [do que seria aceitável para eles] e acabou tornando-o vítima dos tabus”.

No novo século, à medida que jovens, notadamente jogadores de futebol e celebridades da música, passaram a usar diamantes nas produções, teria havido uma “quebra repentina na masculinidade tradicional”, disse Rainero, que iluminou o futuro promissor dessa parcela do mercado. “Até porque, na Cartier, tratamos da elegância, e não há gênero para isso, inclusive quando falamos de diamantes”, afirma.

Os números confirmam as predições do executivo. Embora a alcunha de gênero seja paulatinamente escanteada na comunicação das marcas de luxo, dados da consultoria Euromonitor International apontam que, no ano passado, o mercado de joalheria masculina fina movimentou US$ 7,3 bilhões.

São cifras tímidas ante os US$ 44 bilhões amealhados pela ala feminina da vitrine no mesmo período, mas têm ritmo de crescimento mais acelerado. Enquanto a fatia só para homens computou 7,3% de incremento ano a ano, a feminina registrou 4,6%.

Não é possível fazer o mesmo recorte nos balanços das empresas, já que discriminam gênero, mas o momento é de ascensão nessa fatia dos grupos. Um exemplo é o próprio suíço Richemont, dona de Cartier e das joalherias Van Cleef & Arpels e Bucelatti, que tem nas peças preciosas 69% do negócio, cujas vendas de 2023 totalizaram 20,6 bilhões de euros.

O recorde divulgado em maio surpreendeu analistas e, mesmo sob pressão de 5% de queda no lucro operacional devido a “despesas não recorrentes e movimentos cambiais”, como está descrito no balanço, a curva ascendente da divisão de joias se manteve firme com 6% de crescimento.

Fará sentido, portanto, a ideia de Maurício Okubo, CEO da tradicional joalheria paulistana Julio Okubo, em criar uma marca só masculina, apostando em novas frentes para a grife de sua família. “Não é simples para o homem no Brasil entrar numa joalheria para comprar para si. Acreditamos que a receita passa por oferecer a ele um local exclusivo, com comunicação e ambiente próprios”, diz o empresário.

A nova Okubo Men já opera descolada das coleções femininas nas lojas da etiqueta, especializada em pérolas, e, de acordo com o executivo, ganhará o primeiro ponto homônimo neste ano em um shopping de luxo paulistano.

Seja em formato pop-up, temporário, seja fixo — a depender das negociações com as redes JHSF, do shopping Cidade Jardim, e Iguatemi, para que até o Natal a estrutura fique pronta —, será um dos poucos endereços voltado ao universo masculino. E não serão quaisquer joias.

Em parceria com a Senna Brands, empresa responsável por manter a memória e os licenciamentos que levam o nome do piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, morto em 1994, a Okubo Men lançará 16 peças inspiradas na iconografia da vida do ídolo.

Senna by Okubo Men

Entre o fim de julho e novembro próximos, seis pequenas coleções devem preencher as prateleiras nesta que será a primeira coleção completa já lançada com o nome de Senna — na década passada, a HStern lançou uma edição limitada em homenagem a ele.

Possíveis parceiros em Mônaco, na França, em Milão, na Itália, e nas cidades japonesas de Tóquio e Kyoto negociam com a Okubo Men pontos “shop in shop”, quando uma marca monta espaço exclusivo em uma loja. Devido à ligação com fornecedores de pérolas japonesas, a própria origem dos fundadores da Julio Okubo e a fama do piloto no país asiático, o Japão deverá ser a primeira parada.

“Fizemos uma imersão na história para criar as peças. Tivemos acesso ao acervo do Instituto Ayrton Senna e conversamos com fãs que colecionam itens para criar algo que agrade tanto a quem o acompanhou quanto jovens que só ouviram falar”, explica Okubo.

Referência mais óbvia, o capacete amarelo com faixas verdes virou pingente para uma pulseira. Arrematado com dois diamantes nas laterais, eles levam o “S” duplo que virou a marca do ídolo.

As placas que adornam colares, por sua vez, guardam símbolos mais íntimos. Elas são inspiradas numa pulseira dada a Ayrton pela irmã, Viviane Senna, com inscritos que remetem à resiliência do piloto. Palavras como “superação”, “determinação”, “garra” e “vitória” foram gravadas a laser com a letra dele, reproduzida de manuscritos mantidos pela família.

Leia o artigo na íntegra aqui.

*Pedro Diniz para o Valor Econômico

Compartilhar
plugins premium WordPress
Rolar para cima