Segunda vida é uma das tendências de consumo apresentados em Nova York na edição de 2023 da NRF Retail’s Big Show, a maior feira de varejo do mundo
Por Ana Paula Pereira*
O crescimento do consumo de itens de luxo vem conseguindo enfrentar a desaceleração econômica e o avanço da inflação dos últimos anos. Números da consultoria global Bain & Company projetam que a indústria tenha superado US$ 1,5 trilhão (R$ 7,7 trilhões) em valor de mercado no último ano. Mas mudanças nos hábitos de consumo têm redirecionado as grandes marcas do setor para uma nova fonte de receita: a revenda de peças e artigos de luxo de segunda mão, ou resale, do inglês.
Não por acaso, essa é uma das principais tendências para a indústria de luxo apresentadas na NRF 2023: Retail’s Big Show, a maior feira de varejo do mundo. De acordo com Emily Erkel, fundadora do atacadista de luxo LePrix, a revenda de produtos premium deve crescer onze vezes mais rápido do que o varejo tradicional. “Em 2021, esse mercado era de US$ 36 bilhões (R$ 185 bilhões). Para 2023, estamos falando de cifras em torno de US$ 77 bilhões (R$ 397 bilhões”, afirma.
Consumo sustentável
Esse crescimento é explicado por vários fatores. Entre eles, o impacto das redes sociais que gera o desejo de compra. E a vontade dos consumidores das novas gerações de que, ao adquirir uma peça de segunda mão, esperam tomar decisões de consumo mais sustentáveis e econômicas.
“Os consumidores estão realmente querendo acessar marcas de luxo, e a revenda é a porta de entrada. De uma perspectiva das marcas, a revenda de peças usadas é vista como algo positivo por grande parte dos consumidores nos Estados Unidos. Então existe uma evolução em como as marcas olham para a revenda de peças também”, diz Molly Taylor, diretora de compras da Saks Fifth Avenue, uma das principais vitrines para marcas de luxo de Nova York.
As varejistas de luxo têm estimulado o crescimento do mercado de usados. Elas têm feito uma ponte entre as grifes que precisam otimizar seus estoques, as pessoas que querem se desfazer de itens usados e os consumidores em busca de preços baixos em itens de primeira linha. “Há cada vez mais varejistas entrando no mercado de revenda, desde lojas de departamentos de luxo, como a Neiman Marcus, até marcas que nunca imaginaríamos vendendo uma bolsa Louis Vuitton ou Gucci usadas. Então, estamos em um momento realmente revolucionário para revenda de luxo”, avalia Molly.
Acesso às marcas
Essa relação é alimentada por informações detalhadas sobre a procedência e condições dos produtos através de parceiros, que garantem a autenticação das peças, além de estratégias de marketing personalizadas para diferentes canais de venda. “Em pesquisas, descobrimos que 80% dos nossos clientes interessados em revendas de produtos desejam comprar e revender tendo a Saks como um destino confiável”, diz ela. “Essa acessibilidade está contribuindo para o crescimento desse mercado”. Um dos desafios é transformar o comprador de itens de segunda mão em um consumidor de produtos novos. Para isso, as empresas devem usar análise de dados e inteligência artificial.
Os especialistas avaliam que o nicho deve seguir em expansão nos próximos anos e impulsionar o crescimento da indústria. “Se você experimenta uma marca de luxo pela primeira vez através da revenda, nunca mais volta atrás. Você ama a qualidade, o artesanato e se torna um amante da marca. E as marcas estão começando a perceber isso”, diz Sarah Davis, presidente do outlet de marcas Fashionphile.
*Ana Paula Pereira, de Nova York, especial para a Forbes