Homens passam a adotar ornamentos que antes só mulheres usavam, e elas procuram itens que parecem mais brutos
Por New York Times
Indústria da moda se adapta a mudanças de comportamento, mas esbarra em limites de produção e estoques
Recentemente, as joias usadas como adereços nas passarelas começaram a cruzar os limites do gênero, como a moda mesma vem fazendo – e de maneira igualmente ousada.
Um exemplo são medalhões e gargantilhas que Alessandro Michele usou para completar todo tipo de peça, de suéteres a vestidos, em sua coleção primavera de 2018 para a Gucci. Ele também usou colares de contas, em laranja e rosa, para complementar blazers e calções desfilados por homens.
Ternos da Dior Homme surgiram em desfiles de coleções masculinas acompanhados por braceletes de fitas e broches em formato de caveira e dados, entre outros adereços.
“As mulheres estão usando mais coisas masculinas, e os homens se sentem mais confortáveis usando joias”, disse Lorenz Bäumer, designer de joias parisiense que se inspirou no surfe para criar um pingente de diamantes em forma de prancha.
Para a joalheria Jelena Behrend, joias podem mudar atitudes e redefinir gêneros. “Uma camiseta com jeans é uma roupa básica, mas se um rapaz usar uma gargantilha ou brinco marcante, ele parecerá atual; com um bracelete superdimensionado, bruto, ou um anel no dedinho, uma menina pode ficar com jeito de menino”.
Outra joalheria, Sabine Roemer, recentemente atenuou o look de um anel de ouro feminino, acrescentando diamantes negros, para um cliente homem, e personalizou um anel redondo de tanzanita para uma mulher, “para que o design ficasse mais brando do que as linhas fortes preferidas pelos homens”.
Novos Métodos
A redução da distinção entre os gêneros levou alguns designer de joias a reconsiderar seus métodos. Luz Camino, que trabalha em Madri, diz que homens estão usando seus broches com motivos de flores e estrelas cadentes. “Quando estou desenhando alguma coisa, se não parecer feminina, agora penso que funcionar para homem, e por isso sigo com a ideia em vez de parar, como fazia antigamente”.
Produção Difícil
Mas a tendência tem desafios. “Comerciar esses produtos é um pesadelo”, disse o designer de joias Stephen Webster sobre sua primeira coleção unissex, que lançou em colaboração com o skatista e modelo Blonday McCoy.
A coleção, dirigida ao público da casa dos 20 anos, inclui temas como navalhas e uma imagem que pode ser uma estrela ou uma cruz. “Temos de produzir mais tamanhos e manter estoques maiores porque não se pode fazer uma coleção dirigida a mais de um gênero mas fabricá-las em tamanhos só para um”, disse o joalheiro. “Tive de reduzir o número de peças e pensar mais no design e nas implicações financeiras”.
Também foram necessárias algumas mudanças em termos de varejo, disse Webster. Além de vender as peças online e em suas lojas, ele oferece a coleção em uma rede de produtos para skatistas porque “o streetwear é neutro em termos de gênero, e vem desordenando o mundo da moda. Os clientes sabem que podem comprar produtos em um lugar que não é dirigido a um só gênero”.
O poder de compra atual e futuro da geração millennium também está por trás da mudança. Diversos estudos demonstram como os jovens estão afetando os produtos de luxo.
Fonte: Folha de São Paulo