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O comportamento masculino no século XX e as joias

O comportamento masculino no século XX e as joias

O comportamento masculino no século XX e as joias

Por Eliana Gola

O termo metrossexual ─ junção das palavras metropolitano e sexual, gíria para o homem urbano excessivamente preocupado com a aparência, que gasta grande parte do seu tempo e dinheiro em cosméticos, acessórios, roupas e tem suas condutas pautadas pela moda de cada estação ─ surgiu em 1994 para definir a tendência de comportamento de homens que não viam o menor problema em mergulhar de cabeça em produtos e tratamentos de beleza, ou em se vestir de forma “impecável”, e usar joias e acessórios. A definição partiu do jornalista Mark Simpson para designar homens solteiros e jovens, que seguiam tal tendência, e que viviam ou trabalhavam em grandes centros.

Não seria apenas uma questão de gênero ou opção sexual, mas sim ligada à vaidade presente em qualquer homem hétero, homo ou transexual. Ser vaidoso não mais interferia na masculinidade, e isso representou uma mudança de comportamento.

A virada começou na década de 1990, mas apenas a partir dos anos 2000 é que o mercado percebeu tal potencial. Influenciadores dessas tendências, e atentas a elas, empresas de cosméticos, serviços de estética e de acessórios especializaram-se no público masculino e encontraram novos espaços para atender os clientes: barbearias e a internet.

As joias dos jogadores de futebol

Nos séculos XV e XVI, já era comum usar acessórios para destacar-se. As roupas, semelhantes para homens e mulheres, diferenciavam-se apenas no uso de vestidos para elas e de calças para eles, mas cores e tecidos eram parecidos. E todos usavam brincos, colares, perucas e maquiagem. Esse costume diferenciava a elite, a população rica que via o trabalho como sinal de pobreza, algo destinado ao povo relegado a viver em áreas precárias.

Tais referências de elegância masculina, no entanto, entraram em desuso nos séculos 18 e 19. Os acessórios foram deixados de lado, assim como maquiagem e roupas bem coloridas. Só a partir dos anos 1960 e 1970 foi que os homens voltaram a deixar o cabelo crescer e a usar brincos, principalmente entre grupos artísticos, população ativista da periferia e jogadores de futebol que, cada vez mais, tornavam-se celebridades.

Para eles, usar brincos caros era sinal de riqueza e sucesso na carreira, pois, na maioria das vezes, vinham de famílias pobres. Mas era, também, uma questão de gosto por acessórios ou desejo de imitar um ídolo.

A moda, em si, não é nova, sempre existiu entre competidores de vários esportes no mundo todo. No futebol, Romário, Ronaldinho, Maradona já eram adeptos, mas na última década o fato ficou em evidência quando, em 2002, na Copa do Mundo da Ásia, David Beckham apareceu usando um brinco de diamante em cada orelha. Além de bonito e elegante, David é ídolo não só como jogador: é admirado por outros homens por ser bem-sucedido e casado com uma linda mulher.

Além do par de brilhantes solitários nas orelhas, David exibia colares e anéis feitos exclusivamente para ele, criados por ele. Mas durante os jogos tudo ficava no vestiário e só voltavam a brilhar após o chuveiro.

No entanto, por questões de segurança, a Fifa proibiu o uso de joias ─ brincos, anéis e colares ─ para a prática do esporte.

Mas isso não evitou que os atletas voltassem a usá-las fora de campo, nas entrevistas coletivas, treinos e apresentações.

Para o look considerado de charme, estilo e sedução do terceiro milênio não bastava só o vestir-se, mesmo com roupas de grife: a joia masculina da suprema modernidade incluía ouro, diamante, pedras, pratas, pulseiras de couro, titânio, além dos relógios.

A regra geral, desde o início, foi a liberdade de expressão da sensualidade e vaidade masculinas, longe de preconceitos e rótulos.

E assim, após séculos afastado dos acessórios, a quantidade de homens que passou a usar brincos a partir de meados dos anos 1980 aumentou muito, porém de maneira restrita a certos círculos, pois, para o geral da população, ainda havia resquícios do tabu de serem considerados efeminados se usassem brinco na orelha esquerda ou em ambas as orelhas.

A diversificação do mercado de joias masculinas

Neste momento da história, é como se o homem contemporâneo recomeçasse a explorar sua aparência e vaidade sem preconceitos.

Os adornos masculinos, que haviam se limitado ao relógio e, talvez, uma corrente de ouro, passaram a incluir todo tipo de peça, fossem pulseiras, anéis, brincos, piercings etc.

As joalherias passaram a investir em marketing e reservar para as peças masculinas maior espaço de exposição.

Grandes marcas capitalizaram a tendência:

A Tiffany&Co ─ que desde seu início, em 1837, confeccionou joias masculinas ─ inaugurou em 2007 sua The Men’s Store, na loja de departamentos japonesa Isetan; e, no ano seguinte, Michael Christ, o então presidente da marca no Japão, inaugurou mais dois endereços especializados em homens: um na loja de departamentos Hankyu, em Osaka, e outro no bairro Roppongi Hills, em Tóquio.

De 2007 até 2016 o mercado dobrou de tamanho. A consultoria americana Unity Marketing relatou que as vendas de joias para mulheres cresceram 6,5% entre 2007 e 2009. O percentual de vendas das joias masculinas chegou a 10% no mesmo período.

O relógio não foi considerado na estatística, pois se trata de uma peça ligada muito mais ao poder do que à vaidade.

Quanto ao tipo de peça mais vendida, em primeiro lugar está o anel, com 51% das vendas, sem contar as alianças de casamento. Em seguida vêm as pulseiras, com 23%, e os colares, com 21%.

Na quarta posição estão as abotoaduras. Mas as correntes de ouro, em diversas espessuras e acompanhadas de pingente, continuam sendo as peças mais vendidas, pois nunca perderam totalmente seu posto.

* Eliana Gola é autora do livro “A Joia: Historia e Design” (editora Senac em segunda edição) , Eliana Gola é formada em Artes Plásticas pela FAAP e também é especialista em Design Gráfico e mestre em Design – Desenvolvimento de Produto pela FAU – USP. Complementou seus estudos em Design de joias e joalheria no Istituto Lorenzo di Médici, em Florença, IT. Atualmente é professora na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, e também atua como Designer e Consultora.

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