A grife italiana está desenhando sua história na contramão, provando que uma marca tradicional pode incorporar o pilar da inovação em seu DNA
Por Erica Mendes
Fundada em 1966, a marca italiana Bottega Veneta (BV) é reconhecida por seus pilares de tradição, qualidade e artesania, prezando por valor como discrição e exclusividade. E, nos últimos tempos, ela vem chamando a atenção para além de seus produtos, provando que o fato de carregar em seu DNA o peso, em especial, da tradicional, não a impede de ir na contramão e se manter fiel aos seus valores.
Suas recentes ações têm surpreendido o público e isto já é o suficiente para empresários, inclusive os joalheiros, ficarem de olho e analisarem seus projetos de marketing e varejo que tanto têm desafiado o sistema e gerado um grande reconhecimento de marca em torno de uma estratégia inovadora: projetos criados para gerar a oportunidade de ser disruptiva sem perder sua essência.
Recentemente, o especialista em moda e tendência Jorge Grimberg fez o seguinte questionamento: ‘Será Bottega Veneta a marca mais interessante do momento’? Sem conta nas redes sociais, sem influenciadores, sem tapete vermelho, com desfiles fora do circuito, a marca está avessa aos caminhos de seus concorrentes. “A BV cria suas próprias regras e se destaca por fazer tudo diferente, comprovando que andar fora das linhas pode ser o fator determinante para o sucesso de uma marca”, comentou o profissional.
Vamos aos fatos:
Fora do Circuito
Depois de sair de Milão para desfilar em Londres em 2020 e, em seguida, levar sua passarela para a legendária boate Berghain (Berlin), o designer Daniel Lee apresentou o seu desfile de primavera versão 2022 no Michigan Theatre de Detroit: um palácio de cinema com 4.000 lugares construído em meio ao crescimento a indústria automobilística, que foi convertido em um estacionamento durante a década de 1970.
Culturas Alternativas
A marca propôs criar ‘um momento americano’, forçando as pessoas a pensarem em moda além do circuito Nova York/Paris/Milão e mergulharem na cidade que é berço do techno. Além do desfile, uma loja pop-up foi aberta, misturando a nova coleção com peças de talentos locais – como mobiliário e cerâmica – e discos de vinil da Underground Music Academy, e a exibição de publicações da Black Art Library da cidade, que tem a maior população negra dos Estados Unidos.
Fora do Instagram
A publicação Issued by Bottega Venta, disponível por meio de um cadastro por e-mail, é uma revista eletrônica feita em colaboração com grandes artistas que demonstra uma maneira completamente inovadora de mostrar o lifestyle da marca. O fanzine digital mistura fashion films com editoriais e animações e ainda traz a diversidade de maneira simples e orgânica.
Se analisar que a discrição é um dos pilares da marca, faz todo sentido recuperar um certo mistério e evitar a superexposição. Essa estratégia, no entanto, não é sinônimo de não se fazer ser vista. Muito pelo contrário: em um recente pronunciamento oficial sobre o sumiço das redes, François Pinault, CEO da Kering, do qual a Bottega faz parte, enfatizou que a potência da Bottega segue em voga nas redes através de conteúdo gerado de maneira espontânea pelos milhares de devotos da estética de Lee e sua #newbottega.
Cultura em roupas
A coleção primavera-verão 2022 reinventou os clássicos do sportwear americano (como parkas, jeans, agasalhos e roupas de tênis), transformando materiais como metais em tela e algodão, amassando golas e ombros em formas esculturais: peças reconhecíveis, porém desconstruídas. Também tricotou ternos com xadrez quadriculado para se assemelhar ao tecido de suas bolsas.
Aguardemos ansiosos pelos próximos capítulos da Bottega Veneta, afinal, esse toque de audácia que preza por surpreender positivamente o consumidor pode ser uma receita de sucesso. “Em um mercado competitivo, com clientes sedentos por novidades para voltar às ruas, trilhar fora das linhas promove um renomado senso de desejo ao redirecionar a nossa atenção para lugares inesperados, provando que a criatividade está realmente em quebrar regras e agir fora da caixa”, pontou Grimberg