Usado no passado como selo de nobreza por aristocratas, reis e papas, o adereço desponta novamente

Por Simone Blanes
Os anéis vão muito além da simplicidade do objeto, da beleza estética do milenar adereço. Eles são como um megafone, ao ecoar mensagens. A aliança de noivado usada no dedo anelar direto, ao passar para o esquerdo, avisa haver um casamento, o que não é pouca coisa. Agora, em tendência interessante demais para ser desdenhada, os jovens da chamada geração Z, de 20 e poucos anos, aderiram ao sinete — a peça usada no dedo mindinho, preferencialmente o da mão esquerda, mas nem sempre. Os siggies, como são chamados em inglês, estão em todas, na ficção e na realidade. Aparecem em filmes como Saltburn, em séries de época, nas redes sociais, é claro — e viva a conta Signet Ring Social no Instagram —, e nas fotos de gente famosa. A ex-princesa Meghan Markle, chamemos assim, mulher de Harry, despontou antes do Carnaval com seu exemplar, discreto, e do lado direito. Rihanna, que não perde uma onda, surgiu com um modelo a exibir uma pérola. Taylor Swift ganhou um da melhor amiga, a modelo Gigi Hadid, com referências a seus gatos e o namorado, o jogador de futebol americano Travis Kelce.
É minúscula circunferência com muita história. Criada na Grécia Antiga, o sinete foi amplamente usado dos séculos XVI ao XVIII como selo de nobreza, quase sempre atrelado ao brasão de família em metal, em ouro ou prata, que, pressionado contra um material maleável, como cera ou argila, o carimbava. Por isso, ao modo de assinatura, era usado para selar cartas e documentos oficiais. Virou obrigatório entre aristocratas e reis (Charles III, é claro, tem o seu). Todo papa tem o “anel do pescador”, um dos símbolos pétreos da Igreja Católica, e não por acaso ele é destruído quando um pontífice morre, marco do fim de uma era de poder.
A boa-nova é a popularização da joia, agora entre plebeus. Louve-se, para o atual sucesso, a influência da princesa Diana, que nos anos 1980 decidiu usá-la (era um Cartier), quebrando um tabu: antes, apenas aos homens era dado portar um sinete. Diana não quis saber, na contramão, e então as mulheres começaram a exibi-lo com orgulho. Atualmente, portanto — ainda que não seja proibido para o universo masculino —, virou sinônimo de empoderamento feminino, um manifesto necessário.

Meghan agora emula a ex-sogra, e convém prestar atenção na moça rebelde, porque ela tem poder de fazer acontecer entre os jovens. O sinete dela, manufaturado pela mítica Bentley & Skinner britânica de tempos vitorianos, tem as iniciais “HM” em letra cursiva, debaixo de uma coroa, monograma criado para o casamento de 2018, usado em suas correspondências oficiais, ainda que ela e o marido tenham se afastado das agruras da realeza. “Meghan é figura relevante na modernização das joias reais, mesmo afastada do trono”, diz Bianca Zaramella, professora do Istituto Europeo di Design. Na maré, por natural, começam a despontar sinetes de grifes celebradas, como Cartier e Van Cleef & Arpels, com preços a partir de 900 euros. Um Patek Philippe de ouro vai a 15 000 euros. Mas há, é evidente, exemplares mais em conta, de minerais menos nobres, porque o que importa é o que se quer dizer. Ficam os anéis. O sinete diz muito com muito pouco. É classudo, tem passado, elegância e força.
*Por Simone Blanes para revista VEJA, edição nº 2934