Mercado de moda aumenta seus preços em níveis inéditos como estratégia de valorização e exclusividade das grifes
Por Pedro Ângelo Cantanhêde e Ilca Maria Estevão*
A exclusividade é um status buscado pelas principais grifes do mundo da moda, assim como por sua fiel clientela. O que sempre foi destinado a uma pequena parcela da população se torna cada vez mais inacessível para a maioria, graças a aumentos incontidos de preços e a tendência da “hiperpesonalização” dos produtos de luxo.
Desde 2020, o mercado de luxo passa por uma transformação significativa, na qual a exclusividade é cada vez mais fundamental para renomadas grifes. Segundo dados da Bain & Company, empresa de consultoria americana, os principais 2% dos clientes de luxo representam 40% das vendas nesse segmento. Esse cenário ocorre graças a estratégias cada vez mais elaboradas para engajar e reter os chamados “clientes muito importantes” (VICs, de very important clients).
O especialista em mercado de luxo e fundador da MCF Consultoria, Carlos Ferreirinha, destaca que esse crescimento não é uma novidade e vem ocorrendo de forma expressiva desde a pandemia da Covid-19. “Foi observado um incremento significativo nos valores das marcas de luxo, impulsionado por fatores como o aumento dos custos das matérias-primas”, afirma Ferreirinha. Isso se deve a fatores como a inflação mundial e a guerra na Ucrânia, mas não é o único fator que motiva o aumento dos preços. A busca pela exclusividade é objeto chave nessa discussão.
Ferreirinha ressalta que, diante de um cenário de profissionalização das empresas, as grifes de luxo recorrem à hipersegmentação e à hiperpersonalização de seus produtos, a fim de manter a exclusividade das etiquetas. “Não cabe mais a você querer comprar. Eles passaram a escolher quem é que tem a chance de acessar os produtos deles. Essas estratégias serão cada vez mais fortes nas marcas”, explica o especialista.
Exclusividade é o foco das grifes
Um exemplo notório desse movimento é o aumento significativo de preços em produtos icônicos de grife, como a bolsa média Chanel Flap, cujo preço passou de US$ 5.800, em 2019, para US$ 8.800, em 2022, segundo levantamento da Business of Fashion.
O fenômeno não se limita à indústria da moda. Ferreirinha levanta que a Porsche e a Ferrari, por exemplo, têm adotado estratégias semelhantes, elevando os preços de seus produtos e tornando-os ainda mais exclusivos. “As marcas sobem, cada vez mais, a régua de segmentação de clientes”, conclui o especialista.
Diante desse panorama, espera-se que nos próximos anos as marcas de luxo intensifiquem suas estratégias de segmentação e personalização, elevando ainda mais a exclusividade de seus produtos e reforçando a desigualdade em um mercado que existe às custas da exploração de mão de obra.
*Pedro Ângelo Cantanhêde e Ilca Maria Estevão para Metrópoles