Pedra composta por um novo material denominado “BRG” promete revolucionar a indústria de joias e sua cadeia de suprimentos
Por Arthur Almeida*
Uma pesquisadora da Universidade do Oeste da Inglaterra (UWE), em Bristol, criou uma pedra preciosa capaz de emitir luz no escuro. Com a invenção, ela espera revolucionar a indústria de joias e suas cadeias de suprimentos.
Os cristais que brilham no escuro são compostos por um novo material denominado “BRG”, desenvolvido por Sofie Boons, em colaboração com a empresa suíça BREVALOR.
Há três anos, Boons tem se dedicado a testar a viabilidade e as limitações dessas pedras brilhantes como parte de seu doutorado. Por fim, ela conseguiu lapidar com sucesso uma única pedra que não só é brilhante quando vista à luz do dia, mas que também ilumina no escuro.
O BRG é cultivado por técnicas muito semelhantes às usadas no crescimento de cristais de silício, que formam a espinha dorsal da tecnologia moderna. Esses cristais transparentes fosforescentes poderão ser as novas tendências do futuro.
De onde vem o brilho?
Em entrevista ao site IFLScience, Boons explica que os efeitos brilhantes do BRG são devido a dois aspectos: os íons Eu² + introduzidos na matriz cristalina; e duas “armadilhas” relacionadas a Dy³ + e Nd³ +, que permitem que eles armazenem a luz por um período de tempo. A natureza exata dessas “armadilhas” ainda é objeto de investigações e esforços de otimização em andamento.
Materiais fosforescentes que encontramos na vida cotidiana são geralmente baseados em pigmentos embutidos em plásticos, lacas ou tintas. A fosforescência ocorre na superfície dessas substâncias não transparentes. Contudo, com esses novos cristais únicos, novos efeitos de design baseados em volumes transparentes 3D podem ser usados.
Isso abre caminho para uma nova funcionalidade em pedras preciosas e objetos ornamentais, permitindo o uso de uma fonte de luz interna que precisa apenas de uma breve ativação pela luz do dia. Após a ativação, a energia absorvida eleva os átomos do material a um estado excitado e instável.
Em uma tentativa de retornar a um estado não excitado, o material passa por uma transição. Em seguida, reemite luz por um período que depende do grau de transformação da energia de excitação em luz, que pode ser ajustado por parâmetros de fabricação. Nos testes da pesquisadora, a visibilidade no escuro durou cerca de 24 horas, com uma intensidade que diminui lentamente ao longo do tempo.
Sustentabilidade alinhada à inovação
Frequentemente chamadas de “sintéticas”, as pedras feitas em laboratório possuem as qualidades das mineradas. Os cristais de BRG mantêm propriedades muito próximas aos naturais, tal qual sua dureza e a possibilidade de serem moldados. “Hoje, o crescimento dos cristais está impulsionando inovações em uma variedade de setores”, afirma Boons, em comunicado. “No entanto, na indústria de joias, as pedras preciosas cultivadas em laboratório provocaram uma guerra de palavras e muito debate sobre seu valor.”
A pesquisadora é grande defensora da pauta da sustentabilidade dentro do setor joalheiro. Não à toa, também cultivou rubis por meio de “sementes” de pedras residuais, que reciclam material que outrora seria descartado.
A designer espera que as propriedades favoráveis das pedras que brilham no escuro desencadeiem inúmeras novas ideias de joias contemporâneas e objetos ornamentais. Ela já está trabalhando com a BREVALOR em uma coleção que será lançada no futuro próximo, logo após a defesa de seu doutorado.
Espera-se que essas joias sejam expostas em Bristol, Londres e em algumas outras cidades da Alemanha. A ideia é que isso sirva como “vitrine” para haver mais interesse dos joalheiros em experimentar o recurso das pedras que brilham no escuro.
*Por Arthur Almeida para Revista Galileu