Entenda o significado deste termo que está em alta no corporativismo e que busca por mais diversidade e justiça social nas empresas e economia.
Só se fala em ESG. O termo, abreviação de environmental, social and governance, que engloba o compromisso com critérios ambientais, sociais e de governança parece ser a bola da vez nas agendas corporativas, embora tenha sido cunhado há mais de uma década. Contribuíram para a fama mais recente da sigla, os rastros que a maior crise sanitária do século deixou em tantas searas e a consequente responsabilidade que toda a indústria carregará globalmente na busca pela recuperação social e econômica dos países.
Antes mesmo da COVID-19, porém, o comportamento de consumidor e a pressão de investidores já obrigavam empresas a rever e ampliar seus compromissos com sustentabilidade. Há dois anos, a pesquisa Estilos de Vida 2019, da Nielsen, mostrou que 43% dos 21 mil entrevistados pela consultoria declararam ter mudado significativamente seus hábitos de consumo em prol do meio ambiente – um indicativo forte sobretudo entre os mais jovens, cujo poder aquisitivo ascendia.
Portanto, não há coincidência: os desafios ESG aumentaram no mesmo ritmo que a consciência social. “Estamos vivendo algo único, onde temos um grande número de pessoas, de consumidores a investidores, privilegiando temas relacionados ao desenvolvimento sustentável”, afirma Annelise Vendramini, coordenadora do programa de Finanças Sustentáveis da FGV-EAESP (GVces). “Há mais atenção também por parte dos eleitores, o que culmina no surgimento de governos mais responsivos a este tema para atender as exigências da sociedade”, completa a especialista, que acredita ser possível um sistema capitalista “mais amigo” da sustentabilidade.
O despertar do comportamento ativista
Outra pesquisa, agora pós-pandemia e realizada pela Kantar, apontou que 48% da população entre 18 e 24 anos deseja que as marcas guiem mudanças necessárias no mundo. E não estamos falando apenas de preocupações ecológicas. É esperado por esses novos consumidores (que serão maioria nos próximos anos) que as empresas se comprometam com justiça racial, diversidade em seus times e na oferta de produtos e serviços e com equidade de gênero.
E o comportamento mais ativista, por assim dizer, também tem pautado a decisão de investidores. Sinais desses novos tempos começaram a surgir quando grandes bancos passaram a exigir mulheres no Conselho de Administração de suas investidas. O Goldman Sachs, que em 2019 liderou a maior parte das aberturas de capital de companhias americanas, decretou no ano seguinte que organizações sem mulheres na diretoria não teriam mais o seu respaldo para ir à bolsa. E a partir de 2021, prometeu ampliar as exigências, pedindo ao menos duas representantes do sexo feminino no board das companhias onde a instituição for majoritária.
“Tanto este olhar para diversidade em Conselhos quanto para os compromissos ESG têm sido um filtro para alguns investidores na tomada de decisão”, confirma Annelise. “Já há inclusive aqueles que excluem automaticamente de seu universo de possibilidades, companhias que estimulem ou façam parte de determinadas indústrias. Por exemplo, fabricantes de armamentos ou setores que contribuem muito para mudanças climáticas”, explica.
Dois pesos e duas medidas?
Por que, então, episódios que ferem compromissos sociais e inflamam a opinião pública – como os recorrentes casos de racismo contra consumidores ou escândalos de violência de gênero envolvendo grandes executivos – não se revertem automaticamente em perda de valor de mercado ou de investidores para as corporações?
Segundo Annelise, esta é uma avaliação que pede cuidado. Antes de tudo é preciso compreender a amplitude da sustentabilidade, ao considerar as dimensões ambientais e sociais dentro do conceito. “São muitas as estratégias que conectam investidores às empresas. E não é porque alguma coisa ruim aconteceu, que ele sairá imediatamente de sua posição”, pondera. Ela lembra ainda que o impacto em valor de ações ou de mercado pode ocorrer por uma série de fatores. Alguns de curto prazo, cujo efeito é imediato. “Outros vão mostrar prejuízo financeiro num intervalo temporal maior, como é o caso da sustentabilidade”, completa.
Outro aspecto que pede cautela na análise da professora, é cravar que todas as causas sejam obrigatoriamente contempladas por todas as corporações. “Por exemplo, é possível o progresso sustentável sem diversidade e equidade? Teoricamente não, afinal essas coisas fazem parte de um grande conjunto”, reflete. “Mas ainda há muitos dilemas e dificuldades, sobretudo em um país como o Brasil. Então a pergunta que empresas devem se fazer é sobre como podem contribuir para amenizar problemas sociais e combater desigualdades.”
Fonte: Vogue