O mundo está se tornando mais nostálgico? Entenda como o passado serve de inspiração para marcas e como um comportamento nostálgico nos transporta para “tempos melhores”
Por Marcelo Brandão
O mundo está se tornando mais nostálgico? Pense, não é de hoje que recorremos ao passado seja em busca de inspiração ou de conforto em memórias ou ‘tempos melhores’.
Os sinais estão em todos os lugares. Basta ligar a TV e ver que os streamings investem no retorno de séries antigas aclamadas pelo público, as famosas “reunions”, ou novas produções que revisitam momentos marcantes como os filmes The Mystery of Marilyn Monroe: The Unheard Tapes e Elvis.
O estrondoso sucesso da série Stranger Things, por exemplo, nos mostra que hoje o retro está logo ali nas décadas de 80/90. Um sucesso global que trouxe de volta produtos, estilo e músicas como Running up that Hill para o topo das plataformas musicais de streaming depois mais de 35 anos.
Um sentimento nostálgico que impacta o consumo
Esse sentimento nostálgico se reflete em produtos e, claro, no mercado de consumo. O Boticário, por exemplo, lançou recentemente a linha “Cuide-se Bem Bubbaloo”, que traz produtos inspirados na fragrância da clássica goma de mascar.
Já a personagem Moranguinho foi repaginada em novo lançamento. Dessa vez, a boneca ícone dos anos 1980 chega ao Youtube e ao Roblox para conquistar a geração Alpha. A Universa, por sua vez, está construindo o parque temático Super Nintendo World.
Há também quem viva esse estilo nostálgico em seu dia a dia. É o caso das comunicadoras Daise Alves e Mirella Fonzar, criadoras o Universo Retrô. O primeiro e maior portal dedicado ao estilo retro e vintage do Brasil.
Além de escrever e produzir conteúdo sobre o tema, as duas realizam eventos, encontros temáticos com outros fãs do vintage, pesquisas de mercado e até mesmo consultoria para projetos de marcas e empresas.
A ideia inicial o Universo Retro era falar sobre Cultura e Lifestyle retrô voltados ao rockabilly e ao universo das Pin-ups dos anos 1950. No entanto, ao longo dos anos, o site cresceu e passou a abordar também outras décadas, que vão dos loucos anos 1920 aos recentes anos 2000.
Neste último ano, a equipe do Universo Retrô embarcou em uma nova viagem: repensar o que é vintage nos tempos atuais, chegando assim a uma geração mais jovem e mais contestadora, que vai além da estética do passado. “Seja retrô, não retrógrado”, esse é o lema delas.
Comportamento nostálgico e marcas
Evidente que nos últimos dois anos, período em que o mundo viveu grandes mudanças por conta da pandemia do coronavírus, o nosso comportamento foi impactado. Além dos cuidados com a saúde, uma onda de saudosismos veio à tona por conta de sentimentos aflorados diante de um período incerto. Para muitos, como a jornalista Helen Couto, houve o crescimento de uma tendência denominada “Comportamento Nostálgico”. “Ou seja, a nostalgia se tornou um dos escapes para manter a saúde mental estável nesses tempos difíceis”, diz Helen.
Do ponto de vista das marcas, o “comportamento nostálgico”, se tornou um caminho de diferenciação em tempos mais disputados pela atenção do consumidor. A busca pela identidade principal da marca pela “lente retro”, muitas vezes auxilia na revelação de funcionalidades indistinguíveis, ou ainda valoriza a herança histórica da marca. Para aquelas marcas digamos, “nova retro”, existe a oportunidade de penetração com públicos mais amplos, já consumidores deste estilo.
Enfim, essa utilização da estética retro no consumo está muito ligada à paixão do consumidor por uma época e todo seu contexto, não apenas o produto em si, quando as marcas percebem essa conexão e seu poder de engajamento o sucesso deixa então de ser coisa do passado.
*Marcelo Brandão para Consumidor Moderno