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Supere os banhos de água fria

Supere os banhos de água fria

Supere os banhos de água fria

O caminho passa por mais trabalho e mais compromisso para colher uma satisfação interior

Por Elis Busanello

Foto: Pexels

Eu trabalhava num hotel vertical, executivo, com 84 apartamentos em uso e os demais aguardando uma época de maior movimento de turistas de lazer, quando o município providenciasse a revitalização dos atrativos turísticos. Em plena atividade seriam 140 apartamentos. Era um bom quatro estrelas. Lá do alto, das amplas janelas de vidro e sacadas que circundavam o prédio, as pessoas podiam observar a plantação de soja. O verde era muito intenso e se perdia na linha do horizonte. O lugar… Palmeira das Missões no RS, onde vi o mais bonito pôr do sol da minha vida.

Pois bem, numa reunião com pessoas da comunidade, falei entusiasmada do que pensava possível de ser feito para desenvolvimento turístico regional. Uma senhora, médica, colega de um curso de comunicação, jogou em mim um “balde de água fria” dizendo: Como você é deslumbrada! Fui para casa pensando: O que eu estava fazendo ali, convivendo com pessoas como ela, que morreu e não sabia? Como eu entrei nessa de trabalhar em turismo e vim parar neste lugar? 

 

Foi este “como” que havia conquistado a posição de gerente comercial que eu ocupava no hotel. Na entrevista de emprego, com o proprietário, um visionário chamado de louco pelas pessoas que o amavam, odiavam ou invejavam. Acho que a maioria nutria estes três sentimentos por ele. Quando fui entrevistada, “o louco” perguntou o que eu fazia antes. Contei da minha experiência como professora alfabetizadora, depois como professora de artes, didática, teoria e técnica da comunicação. Cansada das greves por melhores salários, abri minha indústria de uniformes escolares e profissionais, incentivada pelo meu pai. Convivi com inflação, overnight, falta de capital de giro e conseqüentemente falta de insumos para concluir e entregar os pedidos. Tudo bem, sempre gostei de desafios e rotina complicada é comigo mesma. Mas faltava uma coisa que eu tinha quando professora… Eu estava angustiada… Pensei muito e descobri: eu precisava me comunicar. Eu precisava conviver com mais pessoas por dia, desenvolver relacionamentos, conhecer novas culturas. 

Comecei a pesquisar, ler mais, conversei com pessoas aqui e ali e minha sensibilidade dizia que turismo era o negócio do meu país e que eu tinha que fazer parte disso. Mas como começar uma nova carreira sem experiência e com pouco tempo para estudar, se as rotinas de dona de casa, mãe e mulher tomavam um bocado do meu tempo? Foi então que meu marido e eu decidimos que venderíamos o nosso único carrinho, usado mas bonitinho, com o qual passeávamos na Praia do Laranjal nas tardes de domingo e colocaríamos “aquela fortuna” na poupança para vivermos dela (e do trabalho dele é claro) durante os meses necessários para eu me preparar. Em seis meses estudei espanhol, inglês, informática e hotelaria. Começava às 08h e terminava às 22h de 2ª à 6ª feira. No sábado e no domingo aproveitava para fazer estágios nos hotéis da ilha e do continente. Havia esquecido de contar: morávamos em Pelotas no RS e quando decidi migrar para o turismo, mudamos para Florianópolis. 

Voltando ao hotel do interior, aquele no meio das lavouras de soja, lembro que o “louco proprietário” aprovou minha determinação para mudar de profissão. Mais do que isso, ele fazia questão de contar às pessoas, quando me apresentava a elas. O “sacrifício” de andar à pé com sol e chuva durante dois anos, com filhos pequenos para levar à escola, trabalho distante de casa, marido viajando constantemente a trabalho e com possibilidades muito reduzidas de fazer qualquer passeio numa região em que tudo é distante, sensibilizou aquele homem.

Recordo hoje, já na casa dos quarenta, as palavras daquela mulher, e faço isso olhando para o mar gigante em frente à minha sala de trabalho, em um dos melhores hotéis do Brasil. Fico feliz em lembrar o quanto proveitosas foram as palavras ouvidas e, se me permitem os jovens colaboradores de hoje e os visionários como Wilson Ferrarin e Vilmar de Oliveira Schürmann, respectivamente meus patrões do primeiro e do atual hotel: Deslumbrem-se com as possibilidades do seu país! Deslumbre-se com as belezas dos seus estados! Trabalhem muito e sério pelo turismo que acreditam! 

Supere todos “os baldes de água fria” com mais trabalho, mais compromisso e colherá uma satisfação interior que nenhuma palavra mal proferida lhe tira. Este orgulho é seu. Viva com ele e por ele! Você merece!

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